RESUMO
Introdução: A Doença Arterial Coronariana permanece uma das principais causas de morbimortalidade e impacto funcional. A cirurgia de revascularização do miocárdio é uma das principais estratégias terapêuticas, mas seus efeitos precoces sobre a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes ainda são pouco estudados no contexto nacional. Objetivo: Analisar a qualidade de vida e o nível de funcionalidade de pacientes com doença arterial coronariana crônica submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio. Método: Estudo longitudinal, observacional e prospectivo realizado em um hospital universitário de referência, no período de abril a setembro de 2024, envolvendo pacientes adultos submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio eletiva. Foram coletadas variáveis sociodemográficas (idade, sexo, escolaridade, renda), clínicas (antecedentes pessoais, fatores de risco cardiovasculares) e antropométricas (peso, altura e cálculo do índice de massa corporal). A avaliação da qualidade de vida foi realizada por meio do Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36), e a funcionalidade mensurada pela Medida de Independência Funcional (MIF). As avaliações foram aplicadas em dois momentos: antes da cirurgia (linha de base) e após 60 dias da alta hospitalar durante retorno ambulatorial. Os dados foram analisados utilizando métodos descritivos (médias, frequências e desvios-padrão) e testes comparativos adequados para amostras pareadas, visando verificar diferenças entre os dois momentos. Resultados: Foram incluídos 22 pacientes, majoritariamente homens (72,7%) e idosos; baixa escolaridade e renda predominante de 1–3 salários-mínimos. Observou-se alta prevalência de hipertensão (81,8%) e excesso de peso (sobrepeso 40,9%; obesidade 27,3%). Aos 60 dias, a MIF total caiu de 121,73 ± 5,16 para 101,32 ± 14,76 (p < 0,001), com reduções em cuidados pessoais (p < 0,001), mobilidade (p = 0,001), locomoção (p < 0,001) e cognição social (p = 0,004); controle esfincteriano e comunicação mantiveram-se estáveis. O SF-36 apresentou melhora significativa apenas em saúde mental (p = 0,044), sem diferenças nos demais domínios. Na correlação, no pré-operatório a MIF associou-se à saúde mental (r = 0,487; p = 0,022), enquanto no pós-operatório a dor correlacionou-se com a MIF (r= -0,508; p=0,016). Conclusão: Os achados indicam que, no período precoce após a cirurgia de revascularização do miocárdio, há comprometimento funcional significativo e limitada melhora da QV. Esses resultados reforçam a importância da reabilitação precoce, do acompanhamento multiprofissional e do suporte psicossocial contínuo para favorecer a recuperação desses pacientes.