A discussão proposta neste trabalho é motivada pela recriação das experiências por meio da narrativa em três romances do escritor brasileiro João Anzanello Carrascoza: Caderno de um ausente (2017), Menina escrevendo com o pai (2017) e Inventário do azul (2022). Partimos da hipótese de que as personagens são escritoras e leitoras de suas próprias narrativas, e que, o ato de narrar é um caminho para a reconfiguração das identidades narrativas dos personagens. Portanto, examinaremos os três personagens como escritoras e leitoras da sua própria narrativa com suporte teórico nos estudos hermenêuticos do filósofo francês Paul Ricoeur, centrando-nos na Tríplice Mimese, para analisarmos o processo de reconfiguração das identidades narrativas dos personagens. Para chegarmos a uma resposta que satisfaça nossa hipótese, delimitamos como objetivo geral investigar a memória como reconfiguração das identidades narrativas das personagens nos três romances de João Anzanello Carrascoza. Quanto aos objetivos específicos delimitamos cinco, a saber: levantar a fortuna crítica das obras de João Anzanello Carrascoza, relacionando e indicando os principais pontos do percurso teórico que caminharemos; observar como o processo de Tríplice Mimese é articulada nos três romances de Carrascoza e sua relação com a reconfiguração da identidade narrativa dos personagens; verificar de que forma notamos a memória como experiência e como isto reflete na construção da identidade narrativa do personagem de Inventário do azul; avaliar os efeitos de presença na relação estabelecida entre Caderno de um ausente e Menina escrevendo com o pai relacionando com a reconfiguração da identidade narrativa; discutir os procedimentos estilísticos utilizados pelos personagens que refletem na ideia de reconfiguração das identidades narrativas dos personagens dos três romances. Como procedimento metodológico, visando a fluidez no desenvolvimento das etapas mencionadas anteriormente, utilizamos a metodologia comparativa ao estabelecer convergências entre as três obras literárias a partir de um aspecto em comum entre elas: a memória, como também aproxima duas áreas de estudo: Literatura e Filosofia. Quanto ao método de investigação, utilizamos a qualitativa, dado que aproxima duas áreas de pesquisas das ciências humanas que observam seus objetos de estudo a partir de uma perspectiva subjetiva. Utilizamos como base de direcionamento teórico autores como Aristóteles (2014) Cândido (2023); Benjamin (2012;2018); Gagnebin (2006); Gumbrecht (2010); Perrone-Moisés (2016); Ricoeur (1913; 2007); Schollhammer (2012), dentre outros, por meio da narrativa construída dentro deste recorte temático.