No presente trabalho, fizemos uma análise crítica do discurso de resistência de mulheres vítimas de violência de gênero em relatos anônimos postados na página “Mas ele nunca me bateu”, da rede social Instagram. A opção pelo estudo dos relatos destas mulheres surgiu da relevância de compreender como se dá a construção desse discurso. Para tanto, levamos em consideração a formação sócio-histórica brasileira, os posicionamentos assumidos frente aos seus papéis sociais nos relacionamentos amorosos e a maneira como a reprodução de discursos que circulam socialmente moldam percepções e normalizam esse tipo de violência. Adotamos, como base de nossa investigação, os postulados da Análise de Discurso Crítica (ADC) promovida por Fairclough (2001, 2003). Também utilizamos como referencial teórico reflexões sobre a relação entre linguagem e sociedade de Fairclough (2001, 2003), Bakhtin (2003), Izabel Magalhães (2005) e Viviane Resende e Viviane Ramalho (2006), tomadas como norteadoras para a realização desta pesquisa por operarem na área dos estudos linguísticos-discursivos, e sobre a mudança na discursividade do mundo produzida pelo digital, de acordo com Recuero (2009), Castells (2011, 2017) e Cristiane Dias (2016), bem como os estudos de Scoot (1995), Natalia Matas (2002), Maria Cecília Minayo (2004), Michelle Lazar (2007), Inés Alberdi e Leila Barsted (2012) e Judith Butler (2014) sobre a construção de gêneros a partir do discurso de mulheres vítimas de violência. Dessa forma, a presente análise estudou a função desempenhada pelo discurso na sociedade, focando em relações de dominação, poder e desigualdade presentes na construção de identidades sociais. Os resultados demonstraram uma interconexão entre as experiências de abuso das vítimas, permitindo uma visualização clara das dinâmicas de poder e das formas de resistência.