O desenvolvimento da escrita no ambiente escolar é um pressuposto acadêmico confirmado e tem seu apogeu, sobretudo no Brasil, na década de 1980, tendo como um dos marcos a obra produzida por Geraldi (1984) e Almeida (1984), “O texto na sala de aula”, que é fruto de uma compilação de pesquisas acerca de aspectos pedagógicos e sociais do ensino de Língua Portuguesa motivadas pela experiência docente no período de publicação da obra. Enovelados por essas confluências intelectuais que marcam a transição dos séculos XX e XXI, esta dissertação se volta para o texto e a sua produção e pretende, a partir de um apanhado histórico de documentos oficiais do Governo Federal, precisamente o manual, o guia e a cartilha do participante do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), rastrear a construção histórico conceitual de um dos critérios de textualidade que tem maior realce no processo de escrita e de
avaliação, segundo o nível de avaliações do ENEM: a coesão textual. Para a pesquisa estabelecemos um recorte temporal, entre os anos de 2011 e 2023, a fim de verificar como os direcionamentos para a realização da prova “Redação” orientam a conduta do participante frente à necessidade de lançar mão de mecanismos de coesão na elaboração do texto. Esta atividade investigativa se inscreve no âmbito qualitativo de pesquisa sob o viés bibliográfico documental, tendo como aporte teórico autores como Bakhtin (2003), Beaugrande (1997), Beaugrande e Dressler (1983), Fávero e Koch (1994), Halliday (1985), Halliday & Hasan (1976), Koch (2008), Marcuschi (1998, 2008), Mussalim e Bentes (2001), Geraldi (1984, 1997), Almeida (1984, 1987), Costa Val (2006), e outros, de modo a comprovar que, de acordo com a visão corretora para a redação do ENEM, o fenômeno da coesão textual é o critério que garante a existência da textualidade, no entanto, interessa-nos analisar a concepção desse critério quanto ao seu funcionamento no texto do aluno. Dessa forma, a pesquisa entende que, para pensar o uso desses mecanismos de coesão na perspectiva do Exame Nacional, torna- se urgente recorrer a uma análise com base nas prerrogativas acadêmicas, isto é, no aparato reflexivo em torno da coesão por pesquisadores da área da Linguística Textual (LT), os documentos norteadores ao participante e as tomadas de decisão por parte do “professor corretor” que, por seu turno, operacionaliza uma série de conhecimentos (advindos da própria formação, da prática de ensino e das orientações ofertadas por um curso de capacitação disponibilizada anualmente pelo Inep, em nome do Ministério da Educação) para avaliar graus de proficiência na competência direcionada à coesão.