A fim de alcançar os objetivos instituídos enquanto objeto dessa pesquisa, iniciamos o primeiro capítulo teórico com a definição das bases conceituais que possibilitaram a fundação da Análise de Discurso Materialista enquanto área de pesquisa, que, surgida no entremeio de diferentes áreas, tem nos estudos de Pêcheux e de Dubois a sua origem, os quais compartilham o interesse pela epistemologia, pelo Marxismo e pela política, mas que divergem quanto às bases conceituais, assim como quanto à teorização em relação à linguística e seu exterior. A essa contextualização segue-se a discussão dos dois primeiros textos assinados por Herbert/Pêcheux, que fazem uma crítica à concepção de ciência da época, instituindo a determinação de instrumentos como condição para a construção de um dispositivo teórico, influenciado, em parte, pela Epistemologia histórica francesa, ao qual soma-se a influência das ideias de Marx e de seu Materialismo Histórico, segundo o qual a compreensão da realidade passa pela compreensão da realidade histórica, das condições e modos de estruturação da sociedade, ideias estas que serviram de esboço para a constituição de sua teoria das ideologias e de sua concepção de sujeito. No tópico seguinte, fazemos uma breve discussão acerca da influência do contexto histórico e político Francês da década de 1960, e de transformações operadas no campo teórico, entre elas a definição da Linguística enquanto ciência piloto das Ciências Sociais, que culmina com a instituição do que viria a ser seu objeto de estudo, o discurso. Nessa seção, é apresentado um primeiro esboço de sua teoria, em que o autor parte das ideias de Saussure e da crítica à compreensão do texto em evidência na perspectiva clássica, para voltar sua atenção para o funcionamento linguístico e as regras que o tornam possível, propondo o abandono do texto como objeto de estudo em favor da língua. A essa discussão, somam-se breves apontamentos sobre o seu segundo texto, em que Pêcheux faz uma descrição de seu dispositivo de análise automática do processo discursivo, inspirado no modelo distribucional de Harris, momento em que buscamos ressaltar o processo de construção de uma teoria que viria a passar por uma constante reformulação e transformação, mas que traz para o centro de seu estudo questões até então ignoradas, como o funcionamento linguístico, a subjetividade, o interdiscurso, as relações de força, a ideologia, dentre outros conceitos que evidenciam que a materialidade linguística, a história e as condições de produção não podem ser ignoradas, o que justifica o deslocamento empreendido pela perspectiva teórica em curso.