Esta pesquisa tem como objetivo geral propor uma reflexão e análise a cerca da censura em torno do uso da linguagem não binária no português brasileiro. A linguagem não binária propõe a ruptura do emprego da tradicional flexão de gênero binário – masculino/feminino e, por isso, vem sofrendo com a falta de um tratamento adequado dispensado a demanda pelo emprego de formas não binárias. Em suma, os termos não binários não seriam flexionados em –o/-a, mas em –e, tais como: bem-vinde, amigue, linde e gloriose, por exemplo. O trabalho aqui desenvolvido é do tipo exploratório descritivo, de cunho qualitativo, haja vista ter tido sua estrutura elaborada sob uma perspectiva que busca compreender alguns aspectos do comportamento social frente os fenômenos linguísticos não convencionais que veem se manifestando no português brasileiro e colaborar com lacunas neste campo de pesquisa dado o processo do emprego de tais formas estar em sua gênese. Para tanto, uma revisão bibliográfica foi levantada para a construção do aporte teórico delimitado para este trabalho. Conforme Deslauriers e Kérisit (2014, p.134) “é preciso ler o que outros escreveram antes de nós; de certa forma, subir sobre seus ombros para conseguir ver mais além (...)”. Portanto, apoiei-me nos ombros de Saussure (1916), Labov (1960), Wittgenstein (1994), Lucchensi (2004) e Câmara Jr. (2006). Como meio de observação de variantes não binárias, foram consideradas plataformas virtuais de lojas varejistas como TOKSTOK, o “X” – antigo twitter, o Instagram e portais de notícias como UOL, CNN, da Câmara Legislativa Federal e poder360, sendo feita a coleta de registro do emprego de formas não binárias e notícias acerca do cerceamento e proibição de tais formas. Uma vez finalizada esta pesquisa, poderemos concluir que o elo entre língua e sociedade permanece vivo podendo tal vínculo ser equiparado a um “cabo de guerra”, no qual os lados opostos lutam tanto para a preservação quanto para a reinvenção da língua falada. Ante o exposto, poderemos concluir que a relação entre língua, sociedade e fatores extralinguísticos pode tornar a compreensão de alguns fenômenos linguísticos mais difíceis, principalmente quando baseada em conteúdo disseminado sem vínculo com pesquisas linguísticas renomadas o que tende a resultar na obstrução do caminho para o apuramento dos motivos que desencadeiam fenômenos linguísticos que estremecem a tradição vigente de um sistema linguístico.