O conceito de identidade, posto sob rasura a partir de uma perspectiva desconstrutivista, conforme argumento de Stuart Hall (2014), ensejaria, para ser dialeticamente superado, uma mudança que extrapolaria a ordem da representação conceitual, e se concentraria no eixo paradigmático. O problema que esta pesquisa de doutoramento suscita, tomando esta hipótese como ponto de partida, é que quando do deslocamento paradigmático, tributário da crise do paradigma dominante (Santos, 2014), o conceito de identidade não fora substituído, mas recolocado ao centro do paradigma de interseccionalidade (Akotirene, 2019; Collins, 2019; Collins, 2022; Collins; Bilge, 2021). Neste sentido, o conceito de identidade se demonstrou, em aparência, paradoxalmente mais resistente que o próprio paradigma no qual foi formulado. Objetiva-se, portanto, examinar as condições a possibilidade dessa suposta permanência e centramento do referido conceito dentro do paradigma alternativo adotado pela comunidade científica dos Estudos Literários, no Brasil, especificamente, no que tange às investigações desenvolvidas sobre as Literaturas Amefricanas. À vista disso, advoga-se pelas hipóteses de que (i) um conceito emergente da reconfiguração paradigmática, propiciada pela interseccionalidade, teria sido confundido, por sua similitude, com o conceito de identidade, até então preponderante em nossa comunidade; e (ii) que a supração do conceito de identidade mediante um método dialético hegeliano-marxista (Hegel, 1992; Marx,1996a; 199b) seria inviável, considerando-se para tal o argumento fanoniano da impossibilia ao reconhecimento (Fanon, 2008), o que solicitaria uma reformulação dos termos iniciais de Hall à luz da analética dusseliana (Dussel, 1986; s.a.). Para tal, pretende-se retomar, revisar e ampliar debate fomentado em pesquisa precedente (Melo, 2022), desenvolvida a nível de mestrado, no âmbito do Projeto de Pesquisa e Extensão Teseu, o labirinto e seu nome, no qual se propôs uma identificação do conceito-metáfora Caliban (Retamar, 2004) com a categoria político-cultural de amefricanidade (Gonzalez, 2020). Nosso corpus, problemática e objetivo delineados orientam esta tese para um modelo de pesquisa qualitativa, do tipo estudo de casos múltiplos (Yin, 2005). Tendo como ferramenta metodológica própria às investigações desenvolvidas pelo Projeto de Pesquisa e Extensão Teseu, o labirinto e seu nome, uma apropriação da noção glissantiana de prefácio (Glissant, 2005), tal como proposto por Alcione Corrêa Alves (2012; 2013; 2022), que habilite uma análise em rede das obras literárias.