Esta tese apresenta uma pesquisa no campo do Comparatismo Literário Interamericano, cujo objetivo central é propor uma leitura glissantiana do romance Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves (2022 [2006]), com o intuito de investigar as condições de possibilidade para uma identidade cultural ladinoamefricana. Para tanto, estabeleço um diálogo com o pensamento de Lélia Gonzalez (2018 [1988]), cuja proposta de identificação continental, a ladino-amefricanidade, engendrada a partir do Caribe, se desenvolve potencialmente como um paradigma alternativo. No que concerne à abordagem metodológica subjacente ao campo delimitado, e seguindo a proposta de Alcione Corrêa Alves (2022; 2013), parto da apropriação de componentes da ensaística de Édouard Glissant à construção de ferramentas metodológicas que possibilitem uma leitura do romance em estudo como integrante do entrecruzamento de valores da totalidade-mundo. Sem suplantar o caráter estético inerente ao texto literário, o romance Um defeito de cor é compreendido como uma fonte de produção de significados que constitui um campo epistemológico particular, mobilizando intervenções nos sistemas simbólicos e no próprio mundo social. Em outras palavras, o texto literário é lido como parte de uma trama dinâmica de produções artístico-intelectuais ladinoamefricanas, incluindo obras da artista visual Rosana Paulino. A hipótese de trabalho é construída com base na percepção de que Um defeito de cor possibilita a formulação de questões e problemas modelares para além daquelas correntemente circulantes no interior da comunidade científica dos Estudos Literários no Brasil. A proposta desta pesquisa é tributária do recente movimento de intensificação, em nosso campo de pesquisa científica, da circulação de conhecimentos antirracistas e de[s]coloniais. Por meio de uma leitura glissantiana do romance Um defeito de cor, conjugo esforços para impulsionar mudanças em nosso imaginário coletivo, passo necessário às transformações urgentes em nossa realidade.