A expressão do crescimento da ovinocultura no Brasil vem ocorrendo, como consequência da melhoria dos padrões genéticos, das boas práticas sanitárias, do adequado manejo alimentar e do bem-estar animal, resultando no equilíbrio produtivo adequado. O uso de coprodutos gerados pela agroindústria já há muito se demonstra promissor como alimento concentrado na nutrição animal. A glicerina é o principal coproduto gerado na produção de biodiesel e, aproximadamente, 10 % do volume total de biodiesel produzio correspondem à glicerina. O interesse na utilização da glicerina bruta na alimentação animal é devido ao seu valor energético. Destaca-se também os coprodutos de origem do processamento agroindustrial, como, por exemplo, o melaço. Além dos benefícios nutricionais proporcionados aos animais, a introdução deste coproduto também reduz o custo de produção, promovendo assim a otimização do sistema produtivo agropecuário. A meta-análise pode ser aplicada em estudos animais com diversas finalidades, como, na avaliação das características de carcaça; parâmetros nutricionais; estimativa de consumo de matéria seca, consumo alimentar residual e eficiência alimentar de animais; e, rendimento e valor nutritivo do produto final. Objetivou-se com este trabalho, a partir de uma abordagem meta-analítica, desenvolver dois estudos sobre glicerina e melaço avaliando o impacto da utilização do melaço e da glicerina na dieta de ovinos sobre o desempenho, características de carcaça, parâmetros físico-químicos e perfil de ácidos graxos da carne. No estudo 1, avaliou-se o efeito da glicerina bruta em dietas para ovinos sobre o desempenho, parâmetros físico-químicos e o perfil de ácidos graxos da carne. A inclusão de glicerina na dieta de ovinos aumentou a digestibilidade da matéria seca (P = 0,030); proteína bruta (P = 0,001), fibra em detergente neutro (FDN; P = 0,001). Entretanto, a inclusão de glicerina na dieta reduziu ingestão de nitrogênio (P=0,001) e excreção urinária de N (P<0,0001). A inclusão de glicerina na dieta de ovinos reduziu o rendimento da carcaça (P = 0,028), amarelecimento (P = 0,044), perda por descongelamento (P < 0,0001). No entanto, aumentou a umidade (P = 0,028) e cinzas (P = 0,050) na carne. A inclusão de glicerina na dieta de ovinos reduziu a concentração de ácido graxo ácido láurico C12:0 (P <.0001), ácido mirístico C14:0 (P <.0001), ácido palmítico C16:0 (P <.0001), ácido palmitoleico ácido C16:1 c9 (P <0,0001), ácido esteárico C18:0 (P <0,0001), ácido vacênico C18:1 t11 (P = 0,001), ácido graxo saturado total (AGS total; P = 0,035) e Omega -6/Ômega-3 (P <.0001). Além disso, aumentou a concentração na carne de ácido pentadecanóico C15:0 (P <.0001), ácido heptadecanóico C17:0 (P = 0,001), ácido oleico C18:1 c9 (P <.0001), ácido linoleico C18:2 c9 c12 (P <0,0001), ácido linoléico conjugado (CLA c9 t11; P <0,0001), ácido α-linolênico C18:3 ω3 (P <0,0001), ácido araquidônico C20:4 (P <0,0001), ácido eicosapentaenóico C20:5 ω-3 (EPA; P <0,0001), ácido docosahexaenóico C22:6 ω-3 (DHA; P <0,0001), ácido graxo monoinsaturado total (Total MUFA; P <0,0001), ácido graxo poliinsaturado total (PUFA total; P <.0001), Omega-3 total (P <.0001) e Omega-6 total (P <.0001). Entretanto, a inclusão da glicerina na dieta de ovinos não afetou (P > 0,05) contendo ácido miristoleico (C14:1 c9), ácido docosapentaenóico (DPA; C22:5 ω-3) na carne. A glicerina, quando inclusa em dietas para ovinos, não altera o desempenho dos mesmos, porém, as digestibilidades da MS (682,20 g/kg de MS), da PB (728,08 g/kg de MS) e da FDN (49,65 g/kg de MS) apresentam-se aumentadas. A inclusão de glicerina pura em dietas para ovinos não altera a concentração de colesterol na carne, porém diminui a quantidade de ácidos graxos saturados. No estudo 2, avaliou-se o efeito do uso de melaço em dietas para ovinos sobre o desempenho e parâmetros de carcaça. A inclusão de melaço na dieta aumentou a digestibilidade de matéria seca (P = 0.003), fibra em detergente ácido (FDA; P = 0.005), fibra em detergente neutro (FDN; P = 0.002), propionato (P<.0001), butirato (P = 0.002). Entretanto, a inclusão de melaço reduziu consumo de matéria seca total (CMS-total; P = 0.040), nitrogênio uréico no sangue (NUS; P = 0.001), rúmen pH (P = 0.005), acetato (P = 0.002), isovalerato (P = 0.001), isobutirato (P = 0.005; Tabela 3). Contudo, não houve efeito (P > 0.05) da inclusão de melaço na dieta sobre consumo da matéria seca de forragem (CMS-forage), digestibilidade da proteína bruta, proteína total, albumina, glicose, creatinina, colesterol, amônia, valerato ruminal, consumo de nitrogênio, nitrogênio urinário, nitrogênio fecal e nitrogênio retido. A inclusão de melaço na dieta de ovinos aumentou o peso corporal final (P = 0,001), ganho médio diário (DMP; P <,0001), peso de carcaça (P = 0,001), rendimento de carcaça (P <,0001). Contudo, a inclusão de melaço na dieta incluiu leveza na carne (L*; P = 0,023). A inclusão de melaço em dietas para ovinos proporciona melhorias na digestibilidade da matéria seca, proteína bruta, FDN e FDA, principalmente em quantidades entre 100 e 200 g/kg de inclusão na dieta. O uso de melaço causa alterações no ambiente ruminal em relação, principalmente em relação às características ruminais, alterando população de microbiota, e como consequência, liberação de propionato, devido ao uso mais efetivo de carboidratos de rápida degradação. O melaço, quando adicionado a dietas para ovinos, pode proporcionar melhores características organolépticas à carne, como por exemplo, brilho e marmoreio, sendo necessário se fazer a avaliação custo benefício do uso, para garantir que o produtor não tenha perdas econômicas.