A Fábrica de Manteiga e Queijo das Fazendas Nacionais do Piauí foi implantada em 1897, no povoado Campos, à época território de Oeiras, hoje pertencente ao município de Campinas do Piauí. Visava aproveitar a grande quantidade de leite produzido nas terras das Fazendas Nacionais do Estado para a fabricação de manteiga e queijo, empreendimento que traria desenvolvimento ao Piauí. Instalada no meio do sertão piauiense, esta foi a primeira fábrica de laticínios do Nordeste e a segunda do Brasil, configurando-se como um marco da industrialização nacional. Até os dias de hoje é referência para a cidade de Campinas do Piauí, tendo em vista que a ocupação humana da área se desenvolveu no entorno da fábrica e está intimamente ligada à sua instalação, ápice e declínio. Sob o viés da Arqueologia Industrial, e utilizando uma perspectiva transdisciplinar, busquei, neste trabalho, compreender este superartefato enquanto modificador da paisagem regional e da vida local, considerando aspectos como a própria edificação e as atividades ali desenvolvidas, no período fabril e posterior. Para além disso, procurei investigar, a partir da oralidade, a fábrica como modificador social, construtor de relações, envoltas em memórias e histórias, compreendendo sua representatividade e a relação de proximidade que a comunidade campinense mantém com a mesma. A edificação, que ao longo dos anos passou por diversas apropriações, é elemento participante da vida cotidiana local, sendo um elo que estabelece uma constante conexão com o passado e continua a criar vínculos no presente. Observei que somente as memórias afetivas dos diferentes momentos de ocupação da antiga Fábrica de Manteiga e Queijo resistiram ao longo do tempo e se mantêm vivas na comunidade, motivo que anima os moradores a lutarem insistentemente pela restauração do prédio e por uma proveitosa destinação, que priorize a inclusão social local.