Introdução: Espiritualidade é um conceito que difere de religiosidade e tem sido cada vez mais implicada no processo de adoecimento, seja como fator de risco na prevenção de doenças, seja na fase de recuperação e cura. Além disso, espiritualidade está relacionada a qualidade de cuidados em saúde,a satisfação do paciente e possivelmente a qualidade de vida (QV). Assim, espiritualidade deve ser mensurada e avaliada como ciência. A relação entre necessidades espirituais não atendidas e QV é desconhecida na prática clínica. Objetivos: Avaliar e comparar necessidades espirituais, bem-estar spiritual (SpWB) e QV em pacientes com câncer que estão em tratamento com quimioterapia paliativa versus curativa, e identificar se necessidades espirituais ou bem-estar espiritual impactam em QV nestes pacientes. Métodos: Estudo transversal recrutou pacientes com câncer em quimioterapia, que foram arrolados em 2 grupos (quimioterapia curativa versus paliativa). Um questionário para avaliar o perfil religioso e espiritual dos pacientes foi coletado. Necessidades espirituais foram avaliadas pelo The Spiritual Needs Assessment for Patients (SNAP), SpWb pelo Functional Assessment of Chronic Illness Therapy - The 12-item Spiritual Well-Being Scale version 4 (FACIT-Sp-12, v.4), que inclui as subescalas paz/sentido e fé, e QV pelo Functional Assessment of Chronic Illness Therapy--Spiritual Well-Being Scale (FACIT-Sp) e Functional Assessment of Cancer Therapy-General (FACT-G, v. 4). Os resultados foram analisados por meio de estatísticas descritivas, teste de correlação de Pearson, teste não-paramétrico de Mann-Whitney, teste exato de Fischer e teste do qui-quadrado, conforme apropriado. Resultados: Participaram do estudo 77 pacientes, dos quais 40 no grupo paliativo e 37 no grupo curativo: 66,2% mulheres, 51,9% idosos, 47,5% com ensino superior completo, 72,7% com companheiro e 31,2% com câncer de mama. A maioria dos participantes eram católicos (88,2%), 88,3% gostariam de receber ajuda espiritual, 77,6% eram praticantes da religião antes do diagnóstico e 63,2% aumentaram a prática de orações após o início do tratamento. Além disso, 64,9% gostariam que seu médico abordasse sobre espiritualidade/religiosidade, porém 49,3% responderam que não ou apenas raramente a equipe de oncologia o faz. Os escores totais do SNAP não diferiram significativamente entre os dois grupos. No entanto, a dimensão espiritual revelou maiores escores no grupo curativo em relação ao grupo paliativo, indicando maiores necessidades espirituais para este grupo (35,73 versus 31,20, p=0,012). SpWB não foi significativamente diferente entre os dois grupos. Por outro lado, a QV foi melhor no grupo curativo (FACT-G 88,17 vs 80,16, p<0,04 ; FACIT-SP 130,04 vs 120, p=0,023). Houve uma correção forte positiva entre QV e SpWB em ambos os grupos (r=0,64 and r =0,56, p<0,001, respectivaqmente). Houve uma correlação negativa entre necessidades espirituais e QV em pacientes paliativos (r= -0,55, p<0,001). No cenário curativo, necessidades espirituais e QV não tiveram correlação significativa. Conclusão: Este estudo demonstra que pacientes com câncer em tratamento com quimioterapia curativa apresentam maiores necessidades espirituais e melhor QV do que pacientes em quimioterapia paliativa. SpWB contribuiu positivamente com QV em pacientes com câncer em tratamento quimioterápico. Necessidades espirituais não atendidas afetam negativamente a QV de pacientes no cenário paliativo.