Introdução: Historicamente, a grande demanda da Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER), referência em alto risco no Piauí, sempre foi um entrave à efetivação da rede de cuidados à saúde da mulher no estado. Mesmo habilitada desde 2014 como referência na atenção à saúde em gestação de alto risco, a MDER ainda atendeu livre demanda até maio de 2021. A partir de 1 de junho deste mesmo ano, a maternidade passou a internar apenas as pacientes de alto risco. Objetivo: Verificar se a mudança no tipo de acesso à MDER alterou o perfil das pacientes internadas em relação ao risco gestacional. Metodologia: Estudo quantitativo, retrospectivo e transversal, com usuárias internadas em uma maternidade pública do estado do Piauí. Foram analisados dois períodos: de junho a dezembro de 2019 e de junho a dezembro de 2021 e realizada comparação entre os estes períodos a fim de descobrirmos se o perfil de risco das pacientes mudou com a mudança na forma de acesso à instituição. A amostra foi de 240 prontuários, sendo 121 de 2019 e 119 de 2021. Para as variáveis quantitativas ou numéricas, utilizou-se medidas de posição (média) e de dispersão (desvio padrão). Já para variáveis qualitativas ou categóricas foram calculadas as frequências absoluta e relativa. Posteriormente foi realizada análise inferencial para descobrirmos se houve associação entre o período e o perfil de risco das pacientes, o período e o tipo de acesso e o período e o desfecho. Para verificar essas associações utilizou-se o teste qui-quadrado de homogeneidade, considerando significante quando p<0,05. Os resultados foram apresentados em forma de gráficos e/ou tabelas. Todas as análises foram realizadas no software Statistical Package for the Social Sciences-SPSS Versão 26. O projeto de pesquisa foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Resultado: A idade média das mulheres do estudo foi de 25,50±6,78 anos no ano de 2019 e 27,05±7,05 anos em 2021; a maioria, em ambos os anos não informou raça (95% e 89,9%). Quanto à procedência, o estado mais frequente foi Piauí, macrorregião Meio Norte (86% em 2019 e 77,3% em 2021), território Entre Rios (90% em 2019 e 74% em 2021). A cerca das condições clínicas prévias à gestação, que poderiam favorecer uma gravidez de risco, tanto em 2019 quanto em 2021, nota-se que a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) foi a mais frequente (7,1% e 5,2 respectivamente) seguida de ITU/pielonefrite (3,5% e 3,4% respectivamente). Dentre as intercorrências gineco-obstétricas a mais observada foram as doenças hipertensivas específicas da gestação (DHEG), em destaque, PEG presente em 30,6% da população estudada (2019) e 31,1% (2021); e PEM, presente em 6,6% da população estudada (2019) e 8,4% (2021). Quanto ao risco gestacional, pode-se inferir que em ambos os anos houve o predomínio de pacientes classificadas como Alto Risco, 2019: 84,3% (n=102) e 2021: alto risco 90,8% (n=108). O tipo de acesso mais comum foi o acesso regulado, com 44,9% (2019) e 66,4% em 2021. Quanto à taxa de ocupação de leitos, com exceção do mês de setembro, em todos os demais meses houve redução da taxa de ocupação quando comparamos o ano de 2019 com o ano de 2021. Quando o perfil de risco foi associado ao período (2019 e 2021), observou-se que não houve diferença significativa entre os anos. Quanto à associação do tipo de acesso com o período, pode-se deduzir que houve diferença significativa, em 2021 foi maior o acesso classificado como regulado e menor o classificado como demanda espontânea. Conclusão: A avaliação do perfil de risco gestacional nos anos antes e após o acesso regulado demonstrou que a mudança na forma de acesso à MDER não alterou o perfil de risco gestacional das usuárias que se submeteram à internação nesta maternidade. Houve associação estatisticamente significativa entre os anos estudados e o tipo de acesso. A procedência das mulheres foi do estado do Piauí, macrorregião Meio Norte.