Abdias Neves foi um dos intelectuais piauienses de maior destaque durante a Primeira República. Como polígrafo, contribuiu com a cultura escrita através de visitas aos mais variados gêneros: foi da exegese religiosa à historiografia, de estudos jurídicos a textos jornalísticos, da poesia à prosa nas belas letras, sempre alinhado a um conjunto de ideias materialista-cientificista. No tocante às ocupações, foi magistrado, professor, diretor de escolas, político, jornalista, maçom e escritor. Sua trajetória profissional, excetuando-se as experiências na educação privada, foi inteira como funcionário público. Do lugar de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, formado na Faculdade de Direito do Recife, foi procurador da Fazenda do Piauí, lente do Liceu Piauiense, juiz de Direito em comarcas do interior do Piauí, juiz substituto federal, secretário de governo e diretor da secretaria da Câmara Legislativa. Neste trabalho, busca-se analisar a atuação intelectual de Abdias Neves a partir da articulação entre Estado, progresso e civilidade. Compreende-se que o intelectual adotou uma postura profundamente utilitária ao longo de sua trajetória, no sentido de tentar interferir no mundo que o rodeava através da prática escriturística e das prerrogativas institucionais dos cargos que ocupou. Essa postura se deu ombreada às teorias que mediavam suas interações com a realidade na qual estava inserido. Com o objetivo de potencializar as análises realizadas, são estabelecidos diálogos com pesquisadores como Norbert Elias, Michel de Certeau, Nicolau Sevcenko, Teresinha Queiroz e Áurea da Paz Pinheiro.