O presente trabalho tem por interesse compreender as mudanças e as permanências da cultura e da tradição do vaqueiro em Elesbão Veloso (PI) nos anos de 1980 a 2023 através dos fragmentos de memória. O vaqueiro foi uma figura fulcral para a construção social, política e econômica do Piauí. As fazendas de gado estabelecidas no século XVII nos sertões de dentro, eram propriedades localizadas distantes das cidades litorâneas, de modo que muitas vezes ficavam sob os cuidados dos vaqueiros, a partir de acordos financeiros com os donos que residiam em outras áreas. Esses trabalhadores, dentro da realidade sertaneja, possuíam alguma possibilidade de ascensão social marcada pela escravidão do período colonial. No correr dos séculos, a cultura dos vaqueiros se modificou gradualmente, na esteira das mudanças sociais, políticas e econômicas. Nas décadas finais do século XX, o vaqueiro experimentou acelerada metamorfose em sua realidade cotidiana, muito em razão de avanços tecnológicos que impactaram os transportes, as comunicações e o mundo do trabalho em geral. Com o objetivo de abranger o vaqueiro no contexto elesbonense e o impacto das tecnologias em seu trabalho e cultura no século XXI, o referencial teórico tem como base os conceitos de Memória (Halbwachs,1990; Pollak, 1992), de cultura (Chartier, 2002), de identidades culturais (Hall, 2011) e tradição (Hobsbawm, 2022). A metodologia da pesquisa é a História Oral, tendo como referência Freitas (2006). Lançando-se mão de fontes orais, bem como dos jornais, sites, documentos, dados estatísticos e obras literárias, percebe-se a dinâmica cotidiana desses indivíduos, em interação com a realidade na qual estão inseridos, bem como as tarefas cotidianas que afetam os seus sentimentos e os seus corpos e o funcionamento da fé como elemento anímico.