As décadas de 1960 e 1970 protagonizaram um intenso embate entre as representações de masculinidades viris em setores da sociedade civil e a intervenção do Estado de Exceção na ordem sexual, com a elaboração de mecanismos legais para a censura, para a investigação e para a correção da subversão moral. Objetiva-se investigar como a atuação dos órgãos da Ditadura Civil-Militar articularam noções de masculinidades à uma subversão, ao mesmo tempo em que a cultura de massa disseminou uma maior produção contracultural atravessada por códigos disruptivos da categoria sexo-gênero-desejo, compartilhando uma efervescência marcada pela erosão do pudor. O argumento é que o período autoritário atravessou o Estado Ditatorial e favoreceu condições para o exercício de um contra-poder equivalente a onda de seu próprio autoritarismo, algo que não se extingue com a transição para o período democrático. Portanto, os homens que participaram da repressão, da censura e da tortura sexual, operaram com práticas sádicas de poder contra a Revolução Sexual, ao mesmo tempo que atuaram como exercício catalizador de práticas semelhantes às práticas da subcultura homoerótica fetichistas e sadomasoquista no mercado sexual. Nesse ponto, o fim do Estado Ditatorial compreende também pensar a Democracia como um regime de governo participativo e inclusivo, tributário da reconfiguração de pactos contrassexuais, na medida em que se propõe a formar um sistema contra o espelho narcísico das masculinidades viris, compreendendo as fissuras desses padrões como um convite a pensar a pluralidades das relações em um sistema aberto à diferenças formas de ser-estar-sentir no mundo.