Este trabalho objetiva analisar a configuração de uma cultura juvenil marginal em Teresina ao
longo da década de 1970, tendo como principal vetor a obra do jovem artista Arnaldo
Albuquerque. Para isso, examinamos a emergência e desenvolvimento do que chamo de
Espectro Arnaldo Albuquerque, uma época marcada pela contracultura e pelo
desenvolvimento de experimentalismos estéticos e linguagens consideradas marginais na
capital piauiense. Nessa conjuntura, mapeamos duas gerações diferentes de jovens artistas e
escritores, a Geração Gramma e a Geração Mimeógrafo, e buscamos compreender suas
similitudes e suas diferenças, entre si e no interior destas. Insere-se esse processo em meio às
transformações derivadas da emergência da pós-modernidade no Piauí, e as novas maneiras
de identificação derivadas desse fenômeno. De maneira mais evidente, percebe-se na obra de
Arnaldo Albuquerque e seus contemporâneos tensões entre uma identidade cultural regional,
pensada por estes jovens como a tradição, e uma identidade cultural global, de massa e
moderna, e em meio à movimentos artísticos que construíam novas formas de pensar a cultura
brasileira e nordestina. Para isso utilizamos como principais fontes os jornais, livros e revistas
alternativos e os filmes experimentais em super-8 desenvolvidos nesse espectro e que
contaram com a participação de Arnaldo Albuquerque, além de suas charges para jornais de
grande circulação e sua revista em quadrinhos Humor Sangrento, a primeira do Piauí. Também
é dada atenção especial para entrevistas de participantes dessas gerações, a maioria feita sob
a teoria e método da História Oral, e como suas memórias influenciam e são influenciadas por
narrativas construídas a posteriori sobre esse contexto. O trabalho é mediado principalmente
pelas discussões da História Cultural, sobretudo a partir de temas como juventudes,
identidades intervalares, contracultura, artes experimentais e marginalidade. A pesquisa toma
como autores fundamentais nomes como Stuart Hall (2006), Michel Foucault (2006), Homi
Bhabha (1998), Michel de Certeau (1998) François Sirinelli (2006), Albuquerque Júnior
(2011), Leon Kaminski (2022) Edwar Castelo Branco (2005) e Fábio Leonardo Brito (2016).