A pesquisa teve como objetivo propor uma análise crítica ao redor da figura de João José da Cunha Fidié, militar português atuante no processo de independência do Piauí. Investigou-se as representações historiográficas do Major enquanto governador das Armas do Piauí, que levaram à construção de uma memória coletiva que o posiciona como antagonista e símbolo da dominação portuguesa, da mesma forma, foi observada sua própria narrativa enquanto agente histórico. O estudo parte da discussão sobre a não-neutralidade na escrita da história, observando como as interpretações acerca da Batalha do Jenipapo foram moldadas por contextos políticos e ideológicos, sobretudo nas produções historiográficas brasileiras do século XIX e da Primeira República. Foi feita uma investigação aos trabalhos de Abdias Neves (1907), Hermínio de Brito Conde (1926), Odilon Nunes (1966), Wilson de Andrade Brandão (1971) e Monsenhor Chaves (1993), com ênfase na forma como esses autores posicionaram Fidié em suas narrativas, refletindo sobre seus lugares de fala e os projetos de identidade que atravessaram suas interpretações. Além disso, a pesquisa se dedica à trajetória do próprio Fidié, investigando sua atuação no campo político e militar, bem como seus feitos no Brasil, através de documentos oficiais que produziu nesse contexto. Por fim, foi feita uma análise, por meio da escrita de si, do livro Varia Fortuna d’um Soldado Português (1850), escrito pelo Major Fidié, observando suas memórias e documentos anexados. Como auxílio teórico recorre-se a autores como Ângela de Castro Gomes (2004), Maurice Halbwachs (1990), Michael Pollak (1992), Jacques Le Goff, (2005) e Roger Chartier (1990), que permitem compreender as diferentes formas de elaboração e disputa da memória em torno de Fidié. Assim, o trabalho contribui para o debate historiográfico sobre a independência no Piauí, destacando a complexidade das representações sobre um personagem central, cuja imagem foi disputada entre narrativas regionais, projetos nacionais e sua própria vontade.