Em um contexto atual onde a violência contra corpos negros ainda é uma realidade no Brasil e no mundo, faz-se necessária a discussão do papel da grande mídia ao reverberar casos de racismo e violência policial em sua agenda editorial, e as emissoras de tevê têm grande representatividade nesse cenário, por fazerem parte do veículo de comunicação mais presente na casa das famílias brasileiras. A partir desse cenário, escolhemos os programas Fantástico (TV Globo) e o Domingo Espetacular (Record TV) para compreender a construção dos discursos sobre racismo e necropolítica, por meio das suas respectivas coberturas jornalísticas. A partir desse objetivo geral, analisamos os casos dos assassinatos de Marielle Franco (2018), João Pedro (2019), George Floyd (2020) e João Alberto (2020). Utilizamos a Análise Crítica do Discurso (ACD), conforme proposta por Van Dijk (2004; 2008), como metodologia de investigação dos mecanismos discursivos e das representações construídas e reproduzidas na mídia através de uma ótica sócio-cognitiva, ou seja, onde o discurso é entendido como uma forma de poder social em que estruturas sociais e cognitivas estão intrinsecamente ligadas. Na fundamentação teórica acionamos autores importantes no enfrentamento e no destrinchar conceitual do racismo estrutural e da necropolítica na sociedade, como Mbembe (2018), Suely Rolnik (2018), Silvio Almeida (2019), Dennis de Oliveira (2021), Cida Bento (2022), Sueli Carneiro (2023) e Muniz Sodré (2023). Por meio dos tensionamentos apontados, identificamos que os discursos midiáticos frequentemente silenciam questões raciais, naturalizando a branquitude e reforçando estereótipos negativos sobre a população negra, em coberturas jornalísticas aquém do potencial das duas maiores emissoras do país na luta antirracista. Neste sentido, apontamos a urgência de mudanças profundas na forma como a mídia representa a população negra, propondo uma análise crítica e comprometida com a transformação social e a igualdade racial, sem esvaziamento da pauta por meio de discursos protocolares.