A expressão “Rota Crítica” é um termo descrito por Montserrat Sagot (2000) e se refere ao caminho percorrido por mulheres para romperem/saírem da situação de violência que se encontram. Nas trajetórias de vidas de mulheres marcadas pela violência fatores estão associados tanto na condição de impulsionadores quanto de inibidores para a continuidade ou o rompimento da situação de violência.
Porém, ao longo desse debate, muito pouco se tem avançado quanto a compreensão do fenômeno da violência sexual e possibilidades interventivas a partir dos marcadores de raça, gênero e classe mesmo com o avanço da produção do conhecimento orientado pelo debate de autoras feministas e movimentos
sociais de gênero e raça. O trabalho teve como objetivo geral: Compreender a Rota Crítica da violência sexual, sob a perspectiva interseccional, como analisador dos processos institucionais e das práticas de cuidado, reconhecendo os elementos que compõem a rede do dispositivo da violência sexual contra mulheres negras. A pesquisa apresenta-se como uma proposta de pesquisa- intervenção, cuja proposta metodológica tem referência na Análise Institucional (AI). Foi realizada na cidade de Parnaíba-PI com 05 pessoas pertencentes a Rede de Enfrentamento à Violência Sexual. Como instrumento foram realizadas oficinas temáticas e utilizado os diários de campo. Após isso, emergiram 03 blocos temáticos, sendo: a) “A rede de elementos do dispositivo da violência sexual contra corpos negros”; b) “A Rota Crítica: entraves, desafios, resistências e o aspecto interseccional” e c) “Novas trilhas de cuidados interseccionais”. Que abordam os elementos desse dispositivo; os processos institucionais, e o aspecto interseccional, com o intuito de qualificar as ações de cuidado na Rota Crítica da violência sexual contra mulheres negras. Desse modo, como resultados o estudo apresentou o reconhecimento dos elementos do dispositivo da violência sexual, identificando as estruturas que perpetuam desigualdades e silenciamentos, evidenciando os marcadores de raça, gênero e classe como centrais na experiência das mulheres negras. Observamos que a fragmentação da rede intersetorial compromete as práticas de cuidado, revelando a persistência de práticas individuais que resistem às questões institucionais. Assim como, observou-se que os marcadores sociais dessas mulheres continuam sendo negligenciados, comprometendo a capacidade de oferecer cuidados considerando as múltiplas desigualdades enfrentadas. A partir de nossas reflexões, desenvolvemos elementos para práticas interseccionais que considerem as realidades e vivências das mulheres negras, promovendo cuidados mais sensíveis às mulheres que são atravessadas por múltiplas formas de violência.