As vivências da maternidade se expressam de diferentes formas, são polissêmicas,
marcadas por determinantes sociohistóricos. Ainda guardam, entretanto, padrões
extremamente rígidos e impositivos apoiados em significados culturalmente
compartilhados de que o cuidado com os filhos cabe essencialmente à mulher. Essa ideia
encontra esteio nas condições biológicas que possibilitam a gravidez, naturalizando um
fator que é também sociocultural. Ideias deterministas que não alcançam a produção da
maternidade como algo situado no campo sócio-político-cultural e que, portanto, tem
muitos outros condicionantes como aqueles que entrelaçam as relações de classe, gênero
e raça. Aprofundamos o debate sobre os significados compartilhados de maternagem a
partir da análise das vivências de mulheres/mães atendidas pelo CREAS em Parnaíba,
com foco nos determinantes psicossociais da desigualdade, exclusão e sofrimento
ético-político. Para a realização do estudo adotamos a pesquisa qualitativa e descritiva,
utilizando como ferramentas de pesquisa entrevistas semiestruturadas com as
profissionais do CREAS e encontros com as usuárias mães acompanhadas pelo Serviço
de Psicologia. As entrevistas foram gravadas, posteriormente transcritas, sistematizadas
e analisadas. Os resultados do estudo evidenciaram a importância do olhar do sofrimento
ético-político na maternidade no contexto de violação de direitos, identificando as
estruturas que perpetuam desigualdades e os silenciamentos dessas mulheres, os
marcadores de raça, gênero e classe se fizeram centrais na experiência das mulheres
mães vulneráveis. Observamos que a maternidade impacta a vida de todas as mulheres,
revelando que para algumas pode ser fonte de felicidade e apoio, e para outras fonte de
adoecimento. Assim como, observou-se que os marcadores sociais dessas mulheres
continuam sendo negligenciados, comprometendo a capacidade de oferecer cuidados
considerando as múltiplas desigualdades enfrentadas. A partir de nossas reflexões,
desenvolvemos reflexões que considerem as realidades e vivências das mulheres mães,
promovendo cuidados mais sensíveis às mulheres que são atravessadas por múltiplas
formas de violência.