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Banca de QUALIFICAÇÃO: GEICE MARIA PEREIRA DOS SANTOS

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: GEICE MARIA PEREIRA DOS SANTOS
DATA: 08/12/2021
HORA: 16:45
LOCAL: Google Meet
TÍTULO: Corpos, Vozes e Memórias de Anciões Negros: Os Marcadores das Africanidades nas Encruzilhadas da Periferia
PALAVRAS-CHAVES: corpo, vozes, objetivos
PÁGINAS: 50
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Introdução: Nossa escrita não parte do nada, muito pelo contrário, parte de uma sede secular que se remonta de momentos nossos e de nossos iguais, do segurar de mãos, de olhares compreensivos, do olhar do entre-meio e de curiosidades do mundo, reconhecimento de nós e de outras. Nessa busca por autocompreensão e compreensão de nossos iguais, traçamos meios de chegar no espaço onde nos encontramos hoje. Usaremos nessa escrita a primeira pessoa do plural, porque nos entendemos enquanto um povo. A coletividade, o comunitarismo e a ancestralidade não nos permitem ser indivíduos que falam apenas por si.Ressalto que essa construção não foi fácil e nem há de ser, pois além de sermos negras (ori-entanda e ori-entadora), de estudar a pessoa negra, um corpo que o sistema quer extinto dos espaços sociais e acadêmicos, temos uma voz que é historicamente silenciada, pois o epistemicídio não nos autoriza a falar, não nos permite ter voz, não nos autoriza a construir ciência como os nossos. Sempre nos cobraram uma escrita eurocentrada, branca e colonizada, pois parece ser demais já terem “nos permitido” adentrar a academia. Os escritos por muito tempo colocaram o corpo preto como um corpo objeto do pesquisador branco e caracterizado a partir do outro e limitado em suas contribuições e protagonismo. Então já que adentramos, e estão “nos dando voz”, esperam de nós que seja uma voz branca. Mas ressaltamos: Não será! Diante da problemática estrutural e institucional que as pessoas negras enfrentam para sobreviver desde que foram raptadas do continente Africano, outros desafios de ordem social, econômica, de saúde pública, saneamento básico, educacional, moradia, violência, dificuldades de acesso ao trabalho e divergências epistemológicas são necessários serem repensados e garantidos para a população negra. Nesse sentido, usaremos o nosso lugar de pesquisadoras para permitir que a voz de pessoas negras ecoe, e nos permitiremos usar nossa forma de conhecimento, nossa matriz africana de produção de ciência e de filosofia da ancestralidade. Isso é, sem dúvidas, um passo importante a ser realizado de luta, 88 sobrevivência, resistência e valorização de um povo. Fundamentação Teórica: MakotaValdina (2013) nos permite entender que não somos descendentes de escravos e sim, de seres humanos que foram escravizados, pois, por muitos anos o ocidente deturpou nossas verdadeiras histórias, nossas formas de existir, silenciou e violentou o corpo negro, gerou profundas feridas em seus modos de ser e promoveu uma tentativa de apagar nossas formas de nos amar, conhecer e dominar nossas tecnologias e saberes. Inspirados nas vivências em comunidade e direcionados pela ancestralidade é que nosso povo repassou os saberes, através da linguagem oral. A partir disso, é urgente que as comunidades negras resgatem suas histórias, culturas, filosofias, epistemologias roubadas, deturpadas, silenciadas, invisibilizadas, e que possamos partir da identificação dos marcadores das africanidades que ainda permeiam nossas vivências, pois eles tem servido como guias para o desenvolvimento das atividades que buscam fortalecer a consciência étnico racial (...).” (Sandra Petit, 2019). Em Fanon, necessitamos superar o colonialismo epistemológico e transformar o negro em um ser de ação, porque agora as verdades “podem ser ditas sem excitação. Essas verdades não precisam ser jogadas na cara dos homens. Elas não pretendem entusiasmar. Nós desconfiamos do entusiasmo” (Fanon, 2008, p.13). Objetivos: Essa dissertação de mestrado tem o objetivo geral: compreender como anciões negros vivenciam os marcadores das africanidades em um bairro periférico, negro e invisibilizado da cidade de Parnaíba, e como objetivos específicos: conhecer a história de vida de anciões negros do bairro; levantar as memórias coletivas e ancestrais, saberes, fazeres e dizeres compartilhados por anciãos negros; apreender a história e os marcadores das africanidades do povo negro no bairro periférico estudado; investigar extratos do “ser negro” na trajetória de vida dos anciões negros do bairro e sistematizar possibilidades de ações com os anciãos, a fim de disseminar o conhecimento acerca dos marcadores das africanidades no bairro. Método: Esta pesquisa almeja ter natureza qualitativa, e se apoiará nas matrizes etnográficas da pesquisa-intervenção, baseando-se na estratégia metodológica dos caminhos percorridos com os ODUS, construção Afrorreferenciada proposta por Eduardo Oliveira (Machado, 2019). Esse estudo será realizado à medida que nos movemos em território e vamos identificando seus desdobramentos, circularidades e as transformações na comunidade, o que foge da lógica de modelos prontos a serem seguidos, sendo construído à medida que experienciamos o território. Entendemos como Odus, que em iorubá significa caminhos, pelas possibilidades múltiplas de caminhos a serem percorridos. Para Oliveira (2007, p.174) há “uma pluralidade de caminhos que se bifurcam e não raras vezes principiam e precipitam- 89 se em encruzilhadas”. Conforme o autor constrói-se para destruir e destrói-se para construir (...), é preciso ter despojamento, atenção, atitude, entrega. É preciso bastar-se e ao mesmo tempo interagir com o grupo. É preciso aprender o que lhe ensinam, mas, sobretudo, aprender o que já está dentro de você” (Oliveira, 2007, p.175). Não é linear, não tem começo, meio e fim. Tem começo, meio e começo, é circular. A história coletiva de pessoas negras investigadas estará na escrita dessa dissertação em cruza com a minha história, por ser uma mulher negra oriunda também de um bairro negro periférico. Dessa forma, esta pesquisa parte da minha origem, da casa de minhas mais velhas, que foram, em vida, bibliotecas de saberes e fazeres e que hoje identifico uma diversidade de marcadores das africanidades nas vivências com elas; e seguirá para a compreensão das vivências de anciões negros do bairro São José, comunidade periférica no centro da cidade de Parnaíba. O ponto de partida para a identificação dos anciões negros será o Centro de Referências de Serviço Social (CRAS) do bairro, que acolhe um grupo de idosos com idade mínima de 60 anos e residentes no bairro. A metodologia para coleta e análise de dados a ser utilizada nessa pesquisa será a Metodologia dos Odus que apresenta uma sequência de 8 Caminhos dos Odus elaboradas por Oliveira (Machado, 2014) que são: Odu de Origem, Odu de Transição, Odu de Desconstrução, Odu de Transformação, Odu de Beleza, Odu de Natureza, Odu de Espaço e o Odu de Tempo. O Odu de Origem busca a partir da memória, saberes, fazeres e dizeres que possam resgatar e recriar nossas origens; o Odu de Transição possibilitará entender como a realidade se modificou ao longo da vida dos anciãos; o Odu de Desconstrução é o momento de problematizar, junto aos anciões, acerca da estrutura e do modelo colonial fundante do território onde habitam, compreendendo o que gerou o distanciamento de seus corpos e subjetividades de suas raízes africanas; o Odu de Transformação é um momento de construção junto à comunidade como transformaremos as reflexões em ações no campo prático; o Odu de Beleza / Estética / Encantamento perpassa por todos os processos, e nos conduz a trabalhar a partir do sensível, do encantamento, do olhar para si, se tocar, se amar, olhar para sua comunidade, para o seu território, permitir o despertar de suas sensibilidades e belezas; o Odu de Natureza em que buscaremos identificar os marcadores das africanidades a partir das relações que os anciões tem com a natureza em sua volta, plantas, animais e demais fenômenos da natureza; o Odu de Espaço permite a criação e recriação e conhecimento por parte dos anciões de seus territórios visíveis e invisíveis, como se deu a trajetória em seus movimentos de resistência e re-existem na comunidade e em si mesmo. E por fim, o Odu de Tempo que permite compreender o caráter de 90 atualização contínua que acontece à medida que experienciamos a comunidade. Cabe ressaltar que o projeto se encontra em tramitação no Comitê de Ética e Pesquisas Humanas da UFDPar/CMRV. Resultados e/ou Encaminhamentos para os Resultados: Até o presente momento realizou-se o levantamento bibliográfico, delimitamos o título, introdução, objetivos e método. A elaboração inicial está dividida nos seguintes tópicos: Iniciação, onde abordamos de que lugar estamos falando, como a ancestralidade tem auxiliado na produção desse saber e trazemos uma contextualização e relevância da pesquisa; em seguida estamos desenvolvendo quatro capítulos: Capítulo 1 - Percurso do Negro na Cidade de Parnaíba: “A nossa história não pode ser lida como história para ninar os da casa grande, e sim para incomodá-los em seus sonhos injustos” (Conceição Evaristo, 2005); Capítulo 2 - Os Marcadores Das Africanidades: “Os marcadores das africanidades tem servido como guias para o desenvolvimento das atividades que buscam fortalecer a consciência étnico racial (...).” (Sandra Petit, 2019, p.160);Capítulo 3 – Aquilombamento: “A Terra é o meu quilombo. Meu espaço é meu quilombo. Onde eu estou, eu estou. Quando eu estou, eu sou.” Beatriz Nascimento – (Ratts, 2006, p.59) e Capítulo 4 - Odus: Caminho Se Conhece Caminhando: “Mandinga de escravo em ânsia da liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista”.Mestre Pastinha - (Reis, 2020). Ressalto que nesse último é onde exponho o método utilizado nesta pesquisa. A próxima etapa é a inserção no território.


MEMBROS DA BANCA:
Externo à Instituição - ANA KARENINA DE MELO AARAES AMORIM - UFRN
Interno - 2231565 - ANTONIO VLADIMIR FELIX DA SILVA
Presidente - 1750399 - CARLA FERNANDA DE LIMA
Notícia cadastrada em: 07/12/2021 19:58
SIGAA | Superintendência de Tecnologia da Informação - STI/UFPI - (86) 3215-1124 | © UFRN | sigjb04.ufpi.br.sigaa 18/04/2024 05:35