JORNALISMO E CULTURA: Os discursos em circulação nos impressos piauienses
Jornalismo. Cultura. Discursos. Jornais locais.
Em meio as instabilidades e mudanças do jornal impresso diário, os cadernos de cultura – chamados de “segundos” cadernos, e aqui recorremos ao uso das aspas para ressaltar a incoerência dessa alcunha – passam a ser vistos como chamariz para anunciantes, sofrendo fortes alterações, tanto gráficas quanto na formatação de suas equipes de profissionais, passando a unir jornalismo, entretenimento e serviço. É neste cenário que a presente dissertação procura investigar as tendências editoriais dos cadernos de cultura locais, Arte&Fest e Torquato, que circulam diariamente compondo os jornais Meio Norte e O Dia, respectivamente. A investigação ancora-se na corrente teórico-metodológica da Análise de Discursos, tendo como guia os conceitos trazidos por Pinto (1999), Verón (2004) e Bakhtin (2006). Além disso, vem dos filósofos Foucault (2008) e Fairclough (1989) a noção de discurso como prática social, delimitada por regras e convenções sociais atravessadas pelo ideológico e por disputas de poder. A pesquisa põe em xeque a falta de consenso no que diz respeito a noção de cultura, e o próprio uso do adjetivo “cultural” para designar apenas uma subdivisão de editorias dentro da organização do jornal. Além disso, as discussões acerca do “jornalismo das indústrias culturais” (ANDRADE, 2015) atravessam o trabalho na medida em que os interesses comerciais das empresas de comunicação passam a afetar processos e práticas jornalísticas, causando uma “fragmentação de discursos” na cultura. O jornalismo cultural parece ser hoje pautado por uma tensão entre dois vetores opostos: a indústria cultural hegemônica e os discursos críticos anti-hegemônicos, impedindo um domínio completo de um sobre o outro. Estas e outras disputas de vozes, marcadas nas estratégias enunciativas encontradas na superfície dos textos, é o que esta pesquisa identifica. As análises apontam para uma hibridização dos discursos jornalísticos e publicitários e para uma consequente padronização dos cadernos culturais.