O presente trabalho tem por objetivo analisar as narrativas publicadas no jornal Mulherio (1981-1988).
Idealizado por pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas (FCC), em São Paulo (SP), o impresso teve 42
edições ao todo, sendo a primeira publicada em 1981. A análise das edições previamente selecionadas do
periódico é feita de modo interpretativo e com caráter qualitativo, orientada pela hermenêutica da
consciência histórica proposta pelo filósofo francês Paul Ricoeur, em sua obra Tempo e Narrativa (2010).
Tal conceito, aplicado no percurso analítico-interpretativo dessa pesquisa, tem como entrada principal o círculo
hermenêutico, que constitui a narrativa em três etapas: a prefiguração por parte de um autor, combase na
sua experiência e pré-compreensão do mundo; a configuração do mundo vivido e compreendido peloautor,
através da escrita do texto; e, por fim, a refiguração realizada pelo leitor do texto. Conceitos-chave como
tempo, narrativa, mímesis e tradição se destacam no decorrer da dissertação. A amostra intencional deste
trabalho é composta por 10 narrativas extraídas do jornal, publicadas em edições diferentes, cada uma. A partir
disso, delimitamos os seguintes objetivos específicos: investigar o surgimento e criação do jornal Mulherio;
observar o contexto histórico e sociocultural no qual o jornal estava inserido; identificar quem eram as
mulheres que escreviam para o jornal, a partir das narrativas; e averiguar se o periódico contribuiu e como se
deu essa contribuição para a imprensa brasileira e mais especificamente para a imprensa feministana década
de 1980. Essa pesquisa se justifica pela necessidade de estudos sobre a imprensa feminista brasileira nas
décadas passadas, tendo em vista que as investigações com tal recorte precisam ser fortalecidas.