O fenômeno da desinformação, assim como as narrativas antivacinas perpassam a sociedade
desde muitos séculos. Com a deflagração da crise sanitária mundial provocada pelo Coronavírus, as
narrativas falsas se potencializaram, reverberando o negacionismo científico e a pseudociência, ao mesmo tempo, em que colocaram em suspeição os estudos desenvolvidos pela ciência. Nesse cenário
desinformativo, as iniciativas de checagem atuaram para combater a desinformação e esclarecer os fatos que correspondem à realidade. Partindo dessas perspectivas, esta pesquisa teve como objeto de estudo as checagens produzidas pelo Projeto Comprova, viabilizando analisar as narrativas desinformativas sobre as vacinas contra o coronavírus, disseminadas em 2021, primeiro ano de distribuição dos imunizantes. Desse modo, o objetivo geral permitiu identificar quais tipos de afetos a desinformação relacionada às vacinas durante a pandemia convocaram, a partir de suas narrativas, para tentar descredibilizar os imunizantes da COVID-19. E de maneira específica, buscamos: perceber as estratégias desinformacionais antivacina que foram utilizadas pela falsa ciência para fortalecer suas narrativas e colocar em dúvida a segurança dos imunizantes; compreender de que forma a desinformação sobre as vacinas pode ter colaborado para o negacionismo científico durante a pandemia e, por último, perceber a atuação do jornalismo no combate a desinformação sobre a ciência por meio do trabalho desenvolvido pelo Projeto Comprova. Como metodologia para a análise das narrativas verificadas pelo Projeto Comprova, utilizamos a Hermenêutica em Profundidade de John B. Thompson (2011), a qual permite um processo crítico, analítico e interpretativo dos fatos que se deseja investigar. Em relação aos resultados da pesquisa, observamos que as narrativas antivacinas na pandemia utilizaram de argumentos que possibilitaram acionar diversas perspectivas na sociedade, fortalecendo o negacionismo científico e a pseudociência. Para isso, a indústria antivacina convocou afetos que incitaram o medo, a insegurança, a revolta e a desconfiança sobre os imunizantes, além de se equivalerem de estratégias manipulatórias para facilitar a aceitação de suas narrativas. Percebemos que em alguns desses acionamentos, narrativas e estratégias, estão ligadas a outros momentos da história, em que a desinformação antivacina provocou dúvidas e descrédito aos imunizantes, de modo que ultrapassam a temporalidade e afetam a sociedade até os dias atuais. Nesse contexto, compreendemos que o Projeto Comprova desempenhou um importante trabalho no esclarecimento das narrativas antivacinas disseminadas durante a crise sanitária, atuando significativamente para manter a sociedade informada.