A ampliação do acesso à internet e a ascensão das plataformas digitais têm
desestabilizado mais de meio século de hegemonia das emissoras de televisão. A experiência de
assistir TV não é mais a mesma, assim como a lógica de produção de conteúdo para esse meio,
que vem se transformando rapidamente nos últimos anos. Se anteriormente apenas os índices de
audiência e as pesquisas qualitativas influenciavam a programação televisiva, atualmente
plataformas como o Google Trends revelam, em tempo real, discussões, temas, narrativas e
opiniões de uma audiência potencialmente ativa na internet, capaz de repercutir e influenciar
diretamente os programas de TV. Por isso, na busca por audiência e tentando acompanhar as
preferências e expectativas do público, a televisão aberta brasileira passou a explorar novos
formatos, para tornar as notícias mais acessíveis e atrativas a um público imerso em um
ambiente de excesso informacional. Como consequência, observou-se uma intensificação na
mistura de gêneros e a criação de programas que incorporam conteúdos compreendidos no que
hoje se denomina infoentretenimento, um híbrido do jornalismo contemporâneo que, nos
últimos anos, tem resultado em editoriais e atrações mais dinâmicas. Esse fenômeno se insere
no movimento que Henry Jenkins (2009) conceitua como convergência digital. Diante desse
cenário, a presente pesquisa adota o programa Encontro, da Rede Globo, como objeto empírico
de observação, e tem como foco analítico o uso do trending e dos valores-notícia. Parte-se do
seguinte problema de pesquisa: como o trending da ferramenta “Nuvem de Palavras” é utilizado
na produção de matérias e entrevistas pela atração matinal? Para respondê-lo, este estudo
resgata a origem do formato talk show, discute os valores em disputa no gênero ao longo de
quase sete décadas de televisão aberta brasileira e busca compreender o deslocamento da
informação para programas de entretenimento, no contexto em que o telespectador assume uma
postura ativa, interativa e colaborativa, dispersa e conectada em múltiplas plataformas. Adota-se
como método a Análise de Conteúdo, conforme Bardin (1977), para descrever o produto
midiático e seus novos formatos, e justifica-se a pertinência da investigação à luz do conceito de
midiatização da cultura e da sociedade, conforme proposto por Hjarvard (2014).