Introdução: No período de 2020 a 2022, a pandemia de Covid-19 afetou a população de maneira heterogênea. Entre os grupos mais vulneráveis estão as pessoas privadas de liberdade (PPL), onde enfrentam condições insalubres nas Unidades Prisionais (UP). Objetivo: Estimar a prevalência de antígenos e anticorpos contra o SARS-COV-2 nas PPL no estado do Piauí. Métodos: Trata-se de um inquérito sorológico e transversal, realizado com as PPL de ambos os sexos, em sete UP, localizadas em quatro municípios do estado do Piauí, no período abril a outubro de 2022. A amostragem foi probabilística por conglomerado, as UP, com um estágio de seleção. Selecionadas por meio de um sorteio estratificado, considerando a distribuição geográfica e o tamanho da PPL. Realizaram-se entrevistas e testes rápido de antígeno e sorológicos com a utilização do método de quimioluminescência para a detecção de anticorpos IgG N/S e IgM S contra o SARS-CoV-2. As entrevistas foram efetuadas por meio de um questionário eletrônico padronizado e semiestruturado, instalado em tablets, que abordou aspectos clínicos, sociodemográficos e as condições das celas. O teste qui-quadrado de Pearson foi utilizado para comparar as proporções entre os grupos. A magnitude da associação entre as variáveis foi avaliada por meio de regressão de Poisson. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer n. 4.578.002/2021). Resultados: Foram entrevistadas 857 PPL, homens (90%), etária de 25 a 34 anos (40,6%), até o ensino fundamental completo (62,1%), negros (84,4%), sem parceiros conjugais (62,1%) e tempo de encarceramento de até 2 anos (76,3%). Em relação aos aspectos clínicos 37,1% relatou possuir doenças crônicas sendo as mais frequentes outras doenças respiratórias (10%), asma (9,9%) e hipertensão arterial (8,8%). Em relação ao ambiente da cela, 56,9% das PPL compartilhavam cela com 1 até 9 detentos, 53,3% acesso a máscaras faciais e 93,9% água e sabão para higiene das mãos. ma minoria foi beneficiada com orientações ou palestras sobre medidas preventivas contra a Covid-19 (22,9%). O antigeno por SARS-CoV-2 foi identificado em 1,1% (n=10). A presença de anticorpos IgG Anti-N foi identificada em 55,4% dos indivíduos (n=442), IgG Anti-S em 98,9% (n=802) e de IgM Anti-S em 6,5% (n=51). Entre os vacinados, a prevalência de anticorpos IgG Anti-N foi significativamente maior (RP=1,26; IC95%: 1,08-1,46) em relação aos não vacinados (RP=1,00; IC95%). Conclusão: Conclui-se que as medidas de vacinação e controle foram eficazes em conter a disseminação do SARS-CoV-2, resultando em baixa prevalência de infecção ativa e alta exposição prévia entre as PPL no Piauí. É fundamental que as autoridades de saúde e justiça desenvolvam programas de educação em saúde e vacinação, além de garantir o acesso a testes diagnósticos e tratamento.