Enunciar é construir significações “Antes de tudo, a linguagem significa, tal é o seu caráter primordial, sua vocação original que transcende e explica todas as funções que ela assegura no meio humano” (BENVENISTE, 1976, p. 217). Se a linguagem tem como função principal a produção de sentido, a linguagem, em sua essência, é um sistema de significações, logo, a significação deveria estar no centro dos processos linguísticos. Nota-se que a significação, como objeto de análise, não tem sido indiscutível na linguística moderna. Tal cenário reflete com veracidade a forma como a significação e seu estudo tem sido tratado e introduzido no ensino de língua e também na gramática. A investigação sobre o funcionamento e como as unidades linguísticas adquirem significado constitui uma das questões centrais em poucas correntes linguísticas, como a semântica lexical. Esta dissertação, intitulada “Estudo das relações de oposição entre as unidades lexicais cheio e seco à luz da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas”, insere-se no campo dos Estudos Linguísticos, com ênfase na descrição do português brasileiro. Partindo de uma perspectiva construtivista, conforme postulada pela Teoria das Operações Enunciativas (TOE) de Antoine Culioli e seus representantes, o trabalho questiona a atribuição de que unidades lexicais possuem sentidos fixos e pré-estabelecidos, defendendo que a significação é construída dinamicamente no enunciado, por meio de interações entre as unidades linguísticas e seu contexto. O objetivo central é investigar as relações de oposição entre os adjetivos cheio e seco/vazio, tradicionalmente tratados como antônimos, analisando como essas unidades operam semanticamente em diferentes contextos enunciativos. Para isso, adota-se uma abordagem metodológica baseada em glosas e paráfrases, com observação de 100 ocorrências da unidade cheio em postagens da rede social Twitter, as quais são subsequentemente manipuladas por substituição com seco e vazio. Os resultados preliminares demonstram que a relação de oposição entre cheio e seco/vazio não é absoluta, mas contextualmente determinada. Enquanto em alguns enunciados seco e vazio funcionam como antônimos diretos de cheio (ex.: rio cheio vs. rio seco/vazio), em outros contextos — especialmente aqueles que envolvem dimensões abstratas, emocionais ou aspectuais — a oposição não ocorre, revelando que o sentido se estabiliza apenas no interior do enunciado. Além da contribuição teórica, o trabalho avança na reflexão sobre o ensino de língua portuguesa, propondo uma abordagem que substitui a memorização de classificações gramaticais estáticas por uma prática baseada na observação e na manipulação de enunciados, favorecendo uma compreensão mais reflexiva e funcional dos itens lexicais.