Os distúrbios de motilidade intestinal representam um importante desafio clínico, afetando significativamente a qualidade de vida e impondo custos substanciais aos sistemas de saúde. Dentre esses distúrbios destacam-se a constipação, a diarreia funcional, a síndrome do intestino irritável (SII) e o íleo pós-operatório (POI), cujas manifestações clínicas são diversas, porém comumente associadas a disfunções no eixo intestino-cérebro, inflamação intestinal e desequilíbrios na microbiota. A terapia farmacológica tradicional para esses distúrbios nem sempre é eficaz ou segura, o que justifica a busca por alternativas terapêuticas naturais com maior margem de segurança. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos do (-)-borneol — um monoterpeno com reconhecidas propriedades anti-inflamatórias e antiespasmódicas — sobre a motilidade gastrointestinal de camundongos, em modelos fisiológicos e farmacológicos. Foram conduzidos experimentos com camundongos Swiss, submetidos a testes de trânsito gastrointestinal em situações normais e após indução de retardo da motilidade com agentes como verapamil, atropina e ondansetrona, além de um modelo experimental de íleo pós-operatório. A administração oral do borneol demonstrou aumento significativo do trânsito intestinal, com potencial reversão dos efeitos inibitórios dos fármacos utilizados, e atenuação do retardo motor associado ao POI. Os achados indicam que o borneol exerce ação procinética, possivelmente relacionada à modulação de vias colinérgicas e serotoninérgicas no sistema nervoso entérico, além de reduzir mediadores inflamatórios associados à dismotilidade intestinal. Tais propriedades destacam o borneol como um candidato promissor ao desenvolvimento de fitoterápicos para o tratamento de disfunções da motilidade gastrointestinal. Contudo, são necessários estudos adicionais para melhor elucidar seus mecanismos de ação e validar sua eficácia em humanos.