Etnomicologia, ramo das Etnociências que pesquisa a relação dos seres humanos com os fungos, é uma ciência recente. A pesquisa etnomicológica permite uma melhor compreensão do uso de macrofungos por grupos étnicos e fornece uma imagem mais clara da cosmovisão que as pessoas têm sobre a ecologia, uso e classificação dos macrofungos. Considerando que o estudo é interdisciplinar, a pesquisa contribui para a conservação dos ecossistemas, pois os macrofungos são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, realizando a ciclagem de nutrientes. Objetivou-se com o estudo, compreender a transmissão do conhecimento etnomicológico do povo indígena Guajajara, a fim de contribuir para a conservação dos macrofungos na natureza. Elencou - se os objetivos específicos: 1. documentar e compilar os usos dos macrofungos pelo povo indígena Guajajara, para avaliar e revitalizar o conhecimento tradicional entre as gerações indígenas; 2. levantar as pesquisas e avanços da Etnomicologia em comunidades tradicionais do Brasil; 3. avaliar a percepção da relação dos povos indígenas Guajajaras com o ambiente natural, através da classificação Folk para os macrofungos. 4. apresentar uma cartilha educativa, com espécies identificadas e usos dos macrofungos, como retorno e benefício do estudo para a comunidade. A Aldeia Pé de Galinha e Três Irmãos da etnia Guajajara em Barra do Corda-MA, foram escolhidas para a realização do estudo. A pesquisa se delineou nos seguintes questionamentos: Como os fungos são percebidos no ambiente e como é transmitido o conhecimento etnomicológico ao longo das gerações? Há usos das espécies de macrofungos e como resgatar esse conhecimento para conservar as espécies? Duas Hipóteses foram elencadas a fim de compreender os questionamentos apresentados: Os indígenas conhecem e fazem uso dos macrofungos encontrados no ambiente. Eles transferem o conhecimento etnomicológico ao longo das gerações. A pesquisa foi aprovada pelo CEP da UFPI: n° 6.793.491/abril de 2024 e CONEP: n° 6.971.260/agosto de 2024. Como aportes metodológicos, foram utilizados o protocolo Prisma 2020 no estudo de revisão, ancorado ao viés cognitivista para a Etnomicologia. Nas análises quantitativas, utilizou-se os índices de Valor de Uso das espécies, índice de Importância Relativa e classificação Folk para os macrofungos. As técnicas do rapport, turnês-guiada para coleta do material micológico, caderno de campo, checklist e entrevista com álbum seriado de fotografias, foram utilizadas para o levantamento dos dados qualiquantitativos. O material coletado foi incorporado ao Herbário Graziela Barroso (TEPB) da UFPI. Os participantes do estudo foram jovens, adultos e idosos. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado pelos 96 entrevistados. Os resultados demonstraram que embora o interesse pela Etnomicologia tenha avançado nos últimos anos, poucos estudos (6,6%) foram conduzidos com povos indígenas do Brasil. A revisão bibliométrica recuperou 15 trabalhos sobre a Etnomicologia entre 2014 a 2024. Os estudos apresentaram viés mais cognitivista (80%). As comunidades urbanas (27%) e rurais (67%) tiveram maior representatividade que as indígenas (6%). A região Nordeste foi a que obteve maior destaque nas publicações (46%), com seis estudos ligados a UFPI. Embora os indígenas percebam os macrofungos no ambiente, fazem pouco uso das espécies identificadas. Foram catalogadas 42 espécies de Basidiomycota e Ascomycota. As espécies Pycnoporus sanguineus (L.) Murrill, e Lentinus crinitus (L.) Fr, foram citadas para uso medicinal, Auricularia tremelaris (Bull.) ex Juss, para uso comestível, Geastrum hariotti (Pers.) Hendrik, G. saccatum (L) Fr e Calvatia rugosa (Berk.) Curtis, foram citadas para uso lúdico. Mais estudos são necessários para que a Etnomicologia seja divulgada, a fim de compreender a relação do homem com os fungos e minimizar as lacunas sobre a micodiversidade Brasileira, sobretudo para o estado do Maranhão.