A Etnobiologia associa conceitos da evolução cultural humana a fim de conhecer a dinâmica das tradições locais, ao incorporar dimensões culturais, cognitivas e ecológicas. A Etnobotânica incorpora dessas bases conceituais para compreender como o saber relacionado a Plantas Alimentícias Tradicionais (PATs) é transmitido e evolui culturalmente. Objetivou-se compreender a relação entre a Etnobiologia Evolutiva (EE) e as PATs nas comunidades rurais Barra do Saco, Saco e Associação Fomento no município de Codó, Maranhão. A pesquisa é de natureza qualiquatitativa, por meio de pesquisas bibliográficas, levantamentos de dados socioeconômicos e etnobotânicos, aplicação de formulários semiestruturados, observação participante, turnês-guiadas, lista livre e conversas informais com 117 agricultores rurais, homens e mulheres, com idade igual ou maior a 18 anos. Foram citadas 92 etnoespécies de PATs, pertencentes a 49 famílias e 80 gêneros, sendo 49 nativas e 43 exóticas. As famílias com maior número de espécies foram: Solanaceae (7%), Cucurbitaceae (6,5%), Arecaceae e Malvaceae (5,4%) e Fabaceae (4,35%). Dentre as PATs mais citadas pelos agricultores tem-se: vinagreira (Hibiscus sabdariffa L.), vinagreira-roxa (Hibiscus acetosella Welw. ex Hiern), coentrão-caboclo (Eryngium foetidum L.), major-gomes (Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.), açaí (Euterpe oleracea Mart.) e cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum.). Os frutos (46%) e as folhas (32%) são os mais consumidos in natura, em sucos e refrescos, em saladas, cozidos com carnes, feijão e arroz. Os índices de Shannon (4,12) e Simpson (0,98) revelaram diversidade e riqueza de PATs nas três comunidades, havendo consenso entre as informações dos homens e das mulheres. O arroz com cuxá, prato típico da culinária maranhense, revelou que os saberes tradicionais são transmitidos entre as gerações, desde a colheita da planta até o preparo, ficando as mulheres responsáveis em repassar as informações. As pesquisas no campo da Etnobiologia Evolutiva, revelam que os saberes tradicionais são difundidos, a oralidade na transmissão cultural é típica nas comunidades, porém a teoria da construção de nichos destaca que as alterações ambientais geram pressões seletivas negativas sobre a não aceitação e desconhecimento de determinadas PATs, principalmente pelos mais jovens. Os resultados permitiram identificar novas lacunas que associam a segurança nutricional e os conhecimentos tradicionais em comunidades rurais na região do Cerrado maranhense. A resiliência que as comunidades rurais em Codó possuem em relação às práticas de manejo dos recursos alimentares, conservação da biodiversidade e sustentabilidade ambiental, lhes permitem projetar condições equilibradas para a manutenção dos conhecimentos tradicionais. A valorização dos recursos vegetais locais pode estimular a interação do homem com a natureza, além de promover a conservação das plantas alimentícias tradicionais.