Este estudo investiga os impactos socioeconômicos, ambientais e territoriais da expansão agrícola e energética no Complexo Campo Maior (CMC), no Piauí, analisando como o capital globalizado transforma os territórios e redefine as dinâmicas locais. Utilizando uma abordagem metodológica interdisciplinar, o estudo combina o mapeamento de uso e cobertura da terra por meio de imagens de satélite Landsat processadas na plataforma Google Earth Engine, a estimativa de biomassa acima do solo (AGB) com base em índices de vegetação e modelagem estatística, e a análise de dados socioeconômicos e fundiários extraídos de fontes como IBGE, MapBiomas, Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF) e Cadastro Ambiental Rural (CAR). É contextualizada em diferentes recortes do período posterior à crise econômica global de 2008, que intensificou a inserção do Brasil nos fluxos de capital internacional, promovendo a expansão de monoculturas de commodities, como a soja, e o avanço de grandes empreendimentos de energia solar fotovoltaica, ambos sustentados por investimentos estrangeiros e por políticas que incentivam o uso intensivo de terras no bioma Caatinga. Os resultados revelam que a expansão agrícola tem sido marcada pelo aumento expressivo da área cultivada com grãos, especialmente soja, consolidando a fronteira agrícola no CMC e promovendo transformações significativas no uso da terra, muitas vezes em detrimento da vegetação nativa. A perda de cobertura vegetal compromete a biodiversidade local, afeta o habitat de diversas espécies e altera o ciclo do carbono, agravando os impactos das mudanças climáticas. Paralelamente, o crescimento do setor de energia solar, com a instalação de grandes usinas fotovoltaicas, também demanda extensas áreas, intensificando as pressões sobre o território. Esses processos estão associados à concentração fundiária, com indícios de irregularidades na apropriação de terras e no avanço de atividades econômicas sobre áreas de vegetação nativa da Caatinga, aumentando desigualdades socioeconômicas e conflitos fundiários. Apesar de contribuir para o crescimento econômico regional, a expansão desordenada desses empreendimentos revela uma ausência de planejamento integrado e políticas públicas capazes de equilibrar os interesses econômicos com a preservação ambiental e os benefícios sociais. Conclui-se que as transformações territoriais no CMC, impulsionadas pela mundialização do capital, têm gerado vulnerabilidades socioambientais e econômicas, ameaçando a sustentabilidade do bioma Caatinga. Nesse contexto, destaca-se a necessidade de políticas que promovam o desenvolvimento sustentável, conciliando a transição energética e o avanço agrícola com a proteção da biodiversidade, a justiça fundiária e a garantia de condições de vida dignas para as populações locais.