A atividade agrícola no Brasil é fundamental na oferta de alimentos para a população local
e global. Entretanto, o crescimento do setor agrícola levanta preocupações sobre os impactos
socioambientais e a necessidade de práticas sustentáveis, como as feiras livres. Ao passo em que
comercializam produtos perecíveis, elas contrariam a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),
que incentiva a redução, reutilização, reciclagem e valoração dos resíduos. Este estudo contemplou
os municípios de Ubajara, Viçosa do Ceará e Tianguá, situados na região da Serra da Ibiapaba, estado
do Ceará. A pesquisa visou analisar a sustentabilidade e os impactos socioambientais dos resíduos
vegetais nessas feiras à luz da PNRS. Metodologicamente, foram realizadas análises de
gerenciamento de resíduos urbanos, análise cienciométrica sobre publicações em resíduos orgânicos
na Web of Science e coleta de dados com feirantes e consumidores. Os questionários contemplaram
91 feirantes e 104 consumidores. O estudo incluiu observações sobre a dinâmica das feiras, focando
na gestão dos resíduos vegetais. A inclusão dos consumidores na pesquisa deve-se ao papel que
desempenham na conscientização ambiental e cobrança pelo gerenciamento adequado dos resíduos.
Os resultados sinalizam pequenos avanços relacionados às metas da PNRS, como a falta de Planos
Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) e a baixa adoção de práticas de
aproveitamento dos resíduos. A disposição final inadequada, como lixões, aterros controlados e a
incineração, ainda é uma realidade brasileira, mesmo após mais de uma década da implementação da
PNRS. Entre as práticas adotadas de valoração dos resíduos, a reciclagem, a compostagem e a geração
de energia a partir do biogás, mostraram-se promissoras, mas subutilizadas no país. Faltam dados
atualizados no Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR) e
alguns municípios não prestaram contas sobre a gestão de resíduos. Na literatura, os estudos sobre
resíduos orgânicos de feiras livres ainda são escassos, embora haja um movimento entre os
pesquisadores para explorar o impacto desse tipo de resíduo no meio ambiente e os benefícios após a
adoção de práticas sustentáveis. Os achados das três feiras revelaram problemas relativos à gestão
inadequada dos resíduos vegetais, falta de infraestrutura, descarte inadequado e falta de ações locais
de reaproveitamento. Tais problemas decorrem, dentre outros, da presença de vetores que prejudicam
a saúde humana e da qualidade do meio ambiente. Diante dessa realidade, houve a percepção
equivocada dos feirantes quanto à inofensividade dos resíduos orgânicos e à carência de ações
educativas voltadas principalmente para feirantes, mas também para os consumidores. Elas
aumentariam a compreensão sobre os resíduos e estimulariam a cooperação dos feirantes em ações
públicas voltadas ao reaproveitamento. Além disso, os impactos ambientais advindos dos resíduos
presentes nas feiras reforçam a urgência de implementar práticas sustentáveis, como compostagem e
geração de biogás, para reduzir os resíduos enviados a aterros e mitigar os efeitos ambientais nocivos
ao espaço urbano. A avaliação dos impactos e a análise SWOT permitiram propor políticas públicas
e gerenciais alinhadas à PNRS e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).