Esta tese investiga os conflitos socioambientais decorrentes da expansão de projetos de desenvolvimento, como turismo e energia eólica, sobre os territórios de comunidades tradicionais de pescadores artesanais no Delta do Parnaíba, Piauí. O objetivo central é analisar criticamente como o discurso hegemônico de desenvolvimento, materializado em planos governamentais e práticas corporativas, opera como um dispositivo de perpetuação de injustiças históricas, manifestando-se como racismo ambiental e necropolítica. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa e interdisciplinar, fundamentada em revisão bibliográfica e documental, e em entrevistas semiestruturadas com atores locais e ativistas. A análise é conduzida sob a ótica da Análise Crítica do Discurso (ACD), em diálogo com o arcabouço teórico de autores como Ailton Krenak, Nêgo Bispo dos Santos e Achille Mbembe. Os resultados demonstram que, enquanto o modelo desenvolvimentista transforma territórios em zonas de sacrifício e invisibiliza sistematicamente essas populações, as comunidades não são receptoras passivas. Pelo contrário, emergem como sujeitos políticos que, por meio de robustas estratégias de resistência, contestam a lógica excludente e articulam contradiscursos. Conclui-se que a superação desse cenário de injustiça passa pela descolonização do pensamento e das práticas de desenvolvimento, propondo a substituição do conceito de "desenvolvimento" pelo de "envolvimento" comunitário. A tese defende a centralidade da luta por direitos, como a aplicação da Convenção Nº 169 da OIT, e a efetivação da igualdade étnico-racial como critério para a construção de um futuro verdadeiramente justo e sustentável.