MANDU LADINO DE ANFRÍSIO NETO LOBÃO CASTELO BRANCO: APOLOGIA RESISTÊNCIA INDIGENISTA OU ROMANTISMO TARDIO?
Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco. Mandu Ladino. Colonização do Piauí. Resistência indígena.
O romance Mandu Ladino, do autor piauiense Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco, que constitui-se como corpus dessa pesquisa, apresenta, de forma ficcional, uma releitura da história do índio Mandu Ladino, personagem real que viveu em solo piauiense no final do século XVII e início do XVIII e que se tornou símbolo da resistência indígena contra o processo de conquista impetrado pelo colonizador português. Esta pesquisa tem por objetivo investigar se Mandu Ladino, de Castelo Branco representa uma narrativa idealizada com o intuito de construir um passado etnicamente harmonioso sobre o processo de formação do povo piauiense ou uma apologia à resistência indigenista contra o imperialismo das culturas eurocêntricas na época da colonização do Piauí, durante o século XVIII. Para alcançar tal intuito, foram eleitos os seguintes objetivos específicos: a) Refletir sobre as teorias que percebem a História como discurso, examinando como a história do índio Mandu Ladino se torna ficção no romance histórico de Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco; b) Contextualizar historicamente o Piauí à época da chegada dos colonizadores para viabilização das fazendas de gado, averiguando as circunstâncias do processo de resistência indigenista nas lutas contra a colonização da região, relatados pela historiografia oficial e por Castelo Branco em Mandu Ladino; c) Avaliar se a releitura do personagem ficcional Mandu Ladino, de Castelo Branco configura-se como um romantismo tardio ou como uma narrativa pós-colonial procurando encontrar pontos de convergências e divergências em relação a essas correntes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico no campo da Crítica Literária, com aporte teórico dos Estudos Pós-Coloniais e com forte diálogo interdisciplinar com a Sociologia e a História. Fundamentaram teoricamente a pesquisa os estudos de Alencastre (1981), Chaves (1994), Machado (2002), Jameson (2007), Pesavento (2012), Ricœur (1994), Silva (1991), Todorov (2003), Veyne (1998), White (1991; 2001), dentre outros. Em forma de conclusões, ainda que parciais, aponta-se que, em Mandu Ladino, Castelo Branco reavalia as relações de poder entre bandeirantes, pecuaristas e índios piauienses, durante a conquista e colonização do estado. Nesse processo, o indígena, visto como o outro, é colocado sob o estigma da inferioridade cultural, situação legitimada pelos discursos hegemônicos das culturas eurocêntricas. Para assegurar tal relação, o colonizador usou do seu poderio bélico para provocar a violência sem limites, a matança indiscriminada, o que pode ser apontado como um genocídio. Os que se rendiam, principalmente, mulheres, crianças e idosos, tiveram que se descaracterizar e absorver a cultura do branco, tal condição caracteriza-se como um etnocídio.