SOBRE O CONTO INSÓLITO NA LITERATURA PORTUGUESA DO SÉCULO XX: RELENDO SÁ CARNEIRO, ALMADA NEGREIROS, AQUILINO RIBEIRO E TEIXEIRA GOMES
Insólito. Conto Português. Teoria narrativa.
O conceito de insólito, como uma espécie literária que agrega gêneros cuja composição narrativa baseia-se na subversão da expectativa realista da percepção de fatos e suas respectivas implicações causais, configura-se como ponto de partida para o presente empreendimento analítico. Decorrendo disso, textos artísticos (tecido verbal modelizado, elaborado e de coerência relativa) serão observados no sentido de depreender mecanismos de produção de sentido (estratégias narrativas). Então, decorrendo do exposto, depreende-se que exista, por exemplo, um dado texto X que é constituído por estratégias narrativas que, em sua totalidade, “brincam” com a subversão da expectativa realista, levando em conta a verossimilhança interna e/ou externa da obra em prosa de ficção. Essa ideia tem um caráter especialmente correferencial no que diz respeito à expectativa gerada por um pragma perceptivo e possibilidades de subversão em virtude de fenômenos perceptivos. De outra forma, pode-se considerar a questão como uma convergência de subjetividades, a dos personagens e a do próprio leitor, o leitor implícito ou modelo. O percurso argumentativo se servirá da flexibilidade teórica proporcionada pelo conceito de insólito e sua possibilidade de ser uma matriz analítica que confluindo com conceitos de teoria narrativa permita analisar o corpus eleito nos contos: A estranha morte do professor Antena, de Mário de Sá Carneiro; O cágado, de Almada Negreiros; Sede de sangue, de Teixeira Gomes; A reencarnação deliciosa, de Aquilino Ribeiro. Pretende-se defender que os contos em causa, consideradas suas particularidades, pertencem ao insólito. Temos como objetivos específicos: a) apresentar a noção/conceito de insólito ficcional b) Identificar os temas insólitos abordados em cada uma das narrativas escolhidas; c) Descrever as estratégias discursivas empregadas nas narrativas analisadas para melhor compreender a sua produção de sentido; d) Justificar a presença da contística insólita na literatura portuguesa revisitando autores que são pouco conhecidos pela sua produção na seara do insólito ficcional.