A questão do contato entre as línguas africanas e a sua contribuição para a formação do que hoje se conhece por Português Brasileiro há muito compõe a agenda de estudiosos e linguistas brasileiros preocupados em explicar as inúmeras diferenciações entre a língua de Portugal e a língua falada hoje no Brasil. Mas essa discussão não é atual, haja vista o desenvolvimento de estudos a respeito dessa temática, no Brasil, já no século XIX. Sendo assim, o objetivo desta dissertação é analisar os conhecimentos linguísticos produzidos por estudiosos brasileiros, que desenvolveram suas pesquisas no final século XIX e na primeira metade do século XX, quais sejam: Macedo Soares, na obra Estudos lexicográficos do dialeto brasileiro (1942 [1874-1890]); Nina Rodrigues, na obra Os africanos no Brasil (1935 [1890-1905]); A influência africana no português do Brasil de Renato Mendonça (2012 [1933]); e O elemento afro-negro na língua portuguesa de Jacques Raimundo (1933), os quais trataram das relações de contato linguístico entre os povos de língua africana e a língua falada no Brasil à época, com o intuito de compreender e explicar como o contexto intelectual da época e as referências utilizadas por esses estudiosos influenciaram na elaboração do conhecimento linguístico, desses autores, a respeito da influência que as línguas da África tiveram na constituição do que hoje se conhece por Português Brasileiro. Para tanto, será utilizada como base teórica a Historiografia Linguística, área de pesquisa que permite uma análise atrelada ao contexto histórico e social à época em que os estudos foram produzidos, utilizando como categorias analíticas o argumento da influência, proposto por Koerner (2014), além da categoria retórica do autor, de acordo com o que propõe Batista (2015), buscando evidenciar as continuidades e rupturas presentes nas ideais linguísticas desenvolvidas pelos estudiosos em análise. Para embasar a discussão epistemológica, serão utilizados os conceitos de coletivo de pensamento e estilo de pensamento, os quais são discutidos por Fleck (2010).