A presente dissertação objetiva investigar os procedimentos estéticos empregados por João Gilberto Noll para promover a reconfiguração da intimidade espacial na obra A Fúria do Corpo (1981), a partir do discurso das margens vivido pelo narrador-personagem, um mendigo que vive a perambular pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Nesse sentido, buscaremos discutir especificamente aspectos da condição urbana na pós-modernidade, os “não-lugares”, o processo de desenraizamento vivido pelo personagem central da obra e a sua relação com a cidade, tendo em vista o corpo como um dispositivo de controle. Para isso, utilizaremos como aporte teórico Marc Auge (1994), Stuart Hall (2005), Gaston Bachelard (1993), Zygmunt Bauman (1998), Deleuze (1990), dentre outros, que discutem as teorias do espaço ficcional na narrativa. No que se refere à apresentação dos resultados, a pesquisa tem caráter qualitativo, pois analisa basicamente conceitos e ideias em torno da produção do espaço e das figurações da sociedade pós-moderna. Quanto ao processo de coleta de dados para as análises, selecionamos recortes da obra em que se destacam a condição do protagonista-narrador de sujeito andante e de sua condição de desenraizamento pelos lugares em que transita, discutindo, assim, as questões de lugar e não lugar, bem como as implicações na construção da identidade pós-moderna. Ao final deste estudo, pretendemos mostrar que João Gilberto Noll promove uma reconfiguração da intimidade espacial transferindo para a exterioridade da cidade toda a carga de afeto e proteção que Bachelard atribui à imagem da casa, contrariando a leitura clássica advinda da tradição do filósofo francês ao comparar as características do sujeito pós-moderno com personagem de João Gilberto Noll.