Esta pesquisa apresenta uma análise, sob a perspectiva discursiva, de casos de intolerância envolvendo redes sociais. Em vista disso, busquei enquadrar essa intolerância dentro do conceito de Discurso de Ódio, para o qual adotei a definição e também os critérios de prova sistematizados em FGV (2020). Como estratégia de rastreio desse discurso, proponho uma análise a partir de ‘cadeias de eventos discursivos’ (Resende, 2019), das quais gerei um corpus final composto por 2 matérias jornalísticas e 60 comentários. As cadeias, por sua vez, representam práticas discursivas de dois casos ocorridos no Brasil, no ano de 2019: o primeiro teve como alvo uma mulher negra desconhecida na mídia nacional e, o segundo caso, teve como alvo uma atriz negra já conhecida no país. Sobre o aporte teórico e metodológico, a pesquisa está amparada na Análise do Discurso Crítica (ADC), mais especificamente enquadrada em sua abordagem Dialético-relacional (Chouliaraki e Fairclough, 1999) e, por fim, na Teoria Social do Discurso (Fairclough, 2001; 2016). Para melhor corresponder à investigação em cadeias discursivas, apresento uma organização metodológica que privilegiou um dos significados do discurso: o significado acional. Sendo assim, as categorias Estrutura Genérica, Intertextualidade e Significado de Palavras foram mobilizadas em prol do gênero – que é entendido aqui como um modo de agir no mundo. Já as relações ideológicas, que são basicamente estruturantes dos diversos gatilhos relacionados aos discursos de ódio, foram contempladas a partir de um cruzamento com a categoria significados de palavras. O estudo revelou que o ódio discursivo, independente da classe social da mulher negra, se espraia ao longo da cadeia, produzindo efeitos de reforço da própria violência simbólica, fomentando novas agressões aos alvos já vitimados inicialmente e, trazendo à tona preconceitos diversos que vão sendo homogeneizados nas falas.