Na instituição escolar de nível médio, questões envolvendo processos de ensino oportunizam estudos sobre modos de pensar e sobre formas de fazer a docência. Sob a percepção de que o ensino de língua materna tem passado por transformações pedagógicas cada vez mais dinâmicas, em diferentes contextos pelo Brasil, esta dissertação situa a oralidade como objeto de pesquisa, tendo por objetivo geral analisar, qualitativamente, o processo de oficialização da oralidade enquanto conteúdo do ensino de língua materna, em uma escola de nível médio; e como objetivos específicos: (i) verificar, sob a perspectiva docente, as motivações para a presença da oralidade no contexto das práticas pedagógicas do ensino de língua materna; (ii) mostrar, em comparação aos documentos oficiais, como ocorre a formalização documental da oralidade no ensino de língua portuguesa; (iii) descrever, a partir de documentos pedagógicos da escola, o processo de caracterização didática de gêneros textuais orais; (iv) interpretar o contexto de oficialização da oralidade como conteúdo do ensino de língua portuguesa. Para isso, autores como Bakhtin (2016), Schneuwly & Dolz (2004), Marcuschi (2001, 2007, 2008), sobre processos de ensino de gêneros textuais orais, além de Antunes (2003), Fávero, Andrade & Aquino (2012), Gomes-Santos (2012), Leal & Gois (2012), Carvalho & Ferrarezi Jr. (2018), Elias (2018), Castilho (2019), Soares (2002) e outros, sobre oralidade e ensino de língua portuguesa, constituem a base teórica do estudo. Considera-se, ainda, como aporte das discussões, orientações oficiais para o ensino de língua materna no nível médio, conforme Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNEM, 2000) e Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018). Trata-se de uma pesquisa básica quanto à finalidade, qualitativa em relação à abordagem, descritiva e interpretativista quanto aos objetivos, cujo procedimento metodológico envolveu: (i) estudo documental, onde, através de notas e fichamentos de conteúdo, foram investigados a proposta pedagógica da escola, planos de cursos e ementários; (ii) estudo de campo, sobre percepções docentes acerca doensino de gêneros orais, no qual, por meio de questionário e notas de análise de planos de ensino de língua portuguesa, foram verificadas as práticas de formalização do ensino da oralidade na escola. Os dados foram gerados com uso de dois instrumentos: notas de análises documentais e entrevista semiestruturada. Devido ao contexto de pandemia da Covid-19, a coleta de dados de campo ocorreu sob mediação da internet, tendo sido adotado o método netnográfico para interação com os participantes da pesquisa. O procedimento de análise consistiu em discussão teórico-descritiva fundamentada nos aportes da pesquisa. Os resultados indicaram que o processo de oficialização e/ou formalização da oralidade no ensino de língua materna envolve, pelos menos, quatro aspectos de natureza técnico-profissional, os quais estão relacionados às práticas docentes na escola: o aspecto ideológico, voltado para a autonomia do professor, suas razões, quanto à escolha do que deve ser ensinado em língua portuguesa, reafirmou a importância de permanentes espaços coletivos de discussão sobre conteúdos, centrados nos objetivos, nos tipos e nos modos de ensino da oralidade; o aspecto técnico, correspondente à atuação docente na mediação entre as orientações curriculares oficiais externas e internas à escola e a estruturação documental de procedimentos pedagógicos para o ensino de língua materna, mostrou que a oralidade é oficializada através da estruturação de ementas que situam, principalmente, gêneros orais para exposição e/ou interação formal pública; o aspecto da didatização, indicativo dos procedimentos didático-pedagógicos adotados, indicou que o tipo de oralidade a ser ensinada na escola alinha-se, no âmbito terminológico, tanto às orientações oficiais quanto aos estudos linguísticos de vertente interacionista, sociodiscursiva e de gêneros orais; e o aspecto da concretude, voltado para a compreensão global do contexto de oficialização da oralidade no ensino de língua portuguesa, apontou que a oralidade assume seu espaço quando internamente formalizada, o que, no caso da escola pesquisada, ocorre em um processo democraticamente estruturado, sistêmico e tecnicamente materializável em documentos. Esse processo, que situa, oficialmente, a oralidade no contexto das práticas pedagógicas do componente curricular língua portuguesa, ocorre desde a formação de comissões internas, compostas por docentes da área de linguagens, que se mobilizam na estruturação e na avaliação de planos de cursos, até a atualização periódica de ementas para a elaboração dos planos de ensino de língua materna na escola investigada.