Esta pesquisa se insere na perspectiva teórica da Análise de Discurso de cunho materialista, fundada por Pêcheux (1969), que toma as práticas discursivas como oriundas da relação intrínseca entre linguagem e ideologia. Tem como objetivo geral analisar que imaginários sobre ensino e educação a distância são postos em funcionamento em documentos oficiais e propagandas de cursos a distância, desde seu surgimento até décadas pós-LDB/1996, e que imagens são produzidas para o (potencial) aluno da EAD nessas materialidades discursivas. Levantamos, para isso, a seguinte questão norteadora: quais sentidos são produzidos a partir de dois modos de nomeação para o modelo educativo: ensino a distância (EAD) como uma prática de ensino e educação a distância não regular e geral e educação a distância (EaD) como uma modalidade específica de educação regulamentada, com características e métodos de avaliação próprios? Como referencial teórico-analítico, estabelecemos uma interlocução entre as formulações de Pêcheux (1969, 1975) e de Orlandi (2009, 2012), que servirão de base para as análises, no trato sobre discurso, formação discursiva, formação ideológica, memória, interdiscurso, sujeito e condições de produção. O arquivo, composto por documentos jurídicos e informativos sobre o ensino e educação a distância e por propagandas de cursos a distância, foi selecionado a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (1971, 1996); de Decretos do Ministério da Educação – MEC; de Notas Públicas de entidades não governamentais e de propagandas de cursos técnicos e superiores a distância no Brasil, que nos permitiram produzir os recortes a serem analisados. A partir da leitura dos documentos jurídicos e informativos, identificamos um discurso sobre o ensino e a educação a distância atrelado ao avanço das tecnologias, sendo uma alternativa legítima de formação educacional essencial aos indivíduos, quando se trata de Educação Superior e Formação Técnica; e, também, complementar,compensatória ou emergencial, quando realizados na Educação Básica. Conforme as análises das propagandas de cursos técnicos a distância pré-LDB/1996, notamos, de modo dominante, o discurso da profissionalização como conquista dos cidadãos, interpelados ideologicamente pelo capitalismo, que apresenta a profissionalização como meio de ascensão social e econômica e como garantia de futuro. Pelo interdiscurso, circulam sentidos de: estudar para “enriquecer”, “mudar de status social”, “fazer fortuna ou garantir o futuro”. Nesse grupo, encontramos formulações como: “ensino a distância de baixo custo”, “ensino rápido e prático” e “de retorno bem lucrativo” para seus alunos. Os efeitos de sentido do ser “prático”, “rápido” e “funcional” transferem ao ensino a distância ou mesmo à educação esse status de mercadoria, convertendo-se em um bem de consumo. Quanto às propagandas de cursos superiores on-line pós-LDB/1996, identificamos, de forma dominante, os discursos mercadológicos e os de responsabilização do cidadão pela sua formação, que apresentam a educação a distância como alternativa de transformação de vida. Pelo interdiscurso, circulam sentidos de: graduar-se para ser independente, transformar a vida e poder sonhar. Destacamos as formulações “estudar a distância para garantir independência” e “realizar um grande sonho”, que produzem, como efeito, a imagem de uma EaD “transformadora de realidades” e/ou “redentora” para o cidadão.