Esta tese resulta de uma investigação sobre os saberes (sócio)linguísticos dos professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio, os quais são construídos no processo de formação inicial e contínua, no fazer pedagógico e nas experiências cotidianas com alunos e demais colegas de profissão. Diante dessa temática, delineou-se alguns questionamentos sobre como os saberes (sócio)linguísticos construídos pelos professores são vivenciados em sala de aula, tendo como objetivo o desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos. A partir desses questionamentos, propôs-se a seguinte questão norteadora: qual a relação entre os saberes (sócio)linguísticos dos professores de Língua Portuguesa e a ampliação da competência comunicativa dos alunos do Ensino Médio, considerando o contexto de implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - Ensino Médio? De modo geral, o objetivo da pesquisa consistiu em analisar a relação entre os saberes (sócio)linguísticos dos professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio e a ampliação da competência comunicativa dos alunos, no contexto da BNCC. Para tanto, o trabalho fundamentou-se em estudos de Bortoni-Ricardo (2005, 2008, 2017), Hymes (1972a, 1972b,), Faraco (2008, 2015), Erickson (1988, 1990), Gumperz (1972, 1982), Costa (2012, 2016), Vieira (2017, 2019) e outros. A pesquisa é de natureza qualitativa, do tipo etnográfico-colaborativo, ancorada em teorias da Sociolinguística. As interações percebidas por meio da etnografia possibilitaram a compreensão de que toda prática pedagógica precisa ser perpassada por um compromisso social de respeito às origens dos alunos, o que implica conhecer a realidade social, cultural e linguística dos grupos de que fazem parte. Daí evidencia-se que desenvolver a competência comunicativa dos alunos requer dos professores muito mais do que dominar um conjunto de saberes técnicos e conceituais, exigindo, sobretudo, consciência e convicção do que fazer com os saberes que possuem, para definirem até que ponto eles se constituem em possibilidade de alcançar determinados objetivos. Desse modo, o que não é possibilidade pode ser transformado para vir a ser, em um processo de pesquisa, de vivência e de reflexão constante sobre a complexidade do ato de ensinar e de aprender a língua em uso e sobre os saberes constituídos nesse processo. Os resultados da pesquisa permitiram compreender também que os saberes (sócio)linguísticos docentes são indissociáveis dos contextos sociais, históricos e culturais em que foram produzidos, pois é nesses contextos que se dão: 1) o processo de formação docente, 2) a compreensão do processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa e 3) o desejo de responder adequadamente às exigências sociais e de favorecer às condições de desenvolvimento linguístico dos alunos. Tudo isso promove as condições para a construção desses saberes, tipologicamente identificados neste estudo, considerando a base teórica adotada, da seguinte forma: saberes exigidos pelo sistema e pela cultura escolar, saberes estratégicos e interacionais, e saberes conceituais e experienciais. Ademais, conclui-se que tais saberes refletem a necessidade de aprofundamento e de conhecimentos sociolinguísticos na formação inicial e contínua, bem como de formação e de informação sobre as políticas linguísticas implementadas no país e diretamente relacionadas ao currículo escolar, além de participação efetiva na construção dessas políticas.