Esta tese tem o objetivo de investigar como se apresenta a violência política de gênero a partir da escrita feminina nos livros Estilhaços – em tempos de luta contra a ditadura, de Loreta Valadares e Sempre foi sobre nós – Relatos da violência política de gênero no Brasil, organizado por Manuela d’Ávila. Durante a ditadura, a violência praticada contra as mulheres militantes estava relacionada, principalmente, aos seus corpos. Atualmente, a mulher que se insere no âmbito político continua sendo alvo de violência das mais variadas formas, o que mostra que a repressão continua. Assim, parte-se do seguinte problema: há uma violência específica cometida contra as mulheres no âmbito político? Nota-se, a partir das leituras dos textos de Loreta Valadares e Manuela D’ávila, que a mulher sofre violências no âmbito político para que ela seja forçada a se retirar do espaço público e a retornar ao espaço privado/doméstico. Para desenvolver a pesquisa parte-se de algumas questões norteadoras, como: de que forma acontecia a participação de mulheres na política contra a ditadura militar brasileira? E atualmente, como tem acontecido a participação das mulheres no âmbito político? Que violências essas mulheres sofriam/sofrem? Por que elas sofrem essas violências? Como a mulher tem utilizado a escrita para denunciar essas violências? Os relatos mnemônicos são tecidos por uma voz em primeira pessoa? Como elas fazem isso? Partem de recortes de histórias individuais entrecortadas pelos fatos do passado ou da história acoplada à memória coletiva? Este estudo abarcará, assim, as noções de memória e violência em textos escritos por mulheres que vivenciaram/vivenciam essas agressões. Serão evidenciadas as violências praticadas contra as mulheres durante a ditadura militar brasileira e também a violência que as mulheres continuam sofrendo no universo político no país. Para o estudo, serão feitas leituras de Gagnebin (2006), Pollak (1989) e Sarlo (2007), que fundamentarão as questões relacionadas à memória; Alberca (2007), Lejeune (2008) Gomes (2004) e Figueiredo (2022) fundamentando os estudos sobre Escrita de si; Ferreira (1996), Colling (1997), Rosa (2013) e Joffily (2016) que apresentam estudos e discussões sobre a participação feminina contra a ditadura militar brasileira e Lerner (2019) e Bourdieu (2010) que irão fundamentar a discussão sobre violência contra a mulher, dentre outros teóricos que trazem contribuições sobre o tema pesquisado. Percebe-se que a mulher sofreu e continua sofrendo diversas formas de violências no universo político, evidenciadas nos textos de memórias do presente estudo.