A dor inflamatória crônica representa uma das principais enfermidades que limitam a qualidade de vida dos pacientes, além de ser de difícil tratamento, com diversos efeitos colaterais associados ao uso dos medicamentos tradicionais. Diante dessa afirmação torna-se de fundamental importância o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas. As plantas medicinais surgem como alternativa para tratamento de várias enfermidades. Nesse contexto, tem-se o α-Fel, um monoterpeno, constituinte do óleo essencial de inúmeras espécies vegetais, que apresenta atividades antinociceptiva e anti-inflamatória descrita em estudos anteriores. A formação de complexos de inclusão como oligossacarídeos, como a β-CD, pode resultar em melhores propriedades físico-químicas e farmacológicas de substâncias com atividade biológicas. Com isso, o objetivo deste trabalho foi investigar o efeito antinociceptivo e anti-inflamatório do α-Fel complexado com β-CD em modelos experimentais de dor inflamatória crônica. Para o preparo do complexo de inclusão, o α-Fel foi diluído com β-CD e levado para secagem por Spray Dryer. As análises de quantificação foram feitas espectrofotômero UV-VIS. Além do mais, foram realizadas análises teóricas da complexão da estrutura da β-CD com a estrutura do α-Fel utilizando o software Gaussian 09W e método semiempírico PM6. Para indução da dor inflamatória crônica foi administrado o ACF na região intraplantar. Passadas 24 horas da admintração do ACF os animais foram avaliados quanto aos parâmetros de alodinia e hiperalgesia, utilizando os equipamentos von Frey digital e Randall&Selitto, respectivamente. Na avaliação da alodinia os animais foram tratados com α-Fel/β-CD (3.12, 6.25 e 12.5 mg/kg, v.o.), veículo (β-CD, 12.5 mg/kg, v.o.) e dexametasona (0.5 mg/kg, v.o.) e avaliados em diferentes intervalos de tempo (1, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 24 h) após o tratamento. Para avaliação do tratamento sub-agudo os animais foram tratados e avaliados por um período de 10 dias. Para investigar se o tratamento prolongado poderia resultar no desenvolvimento de tolerância os animais submetidos à avaliação da alodinia mecânica tiverem o tratamento interrompido no sexto dia e retornado ao nono dia. O efeito na hiperalgesia foi investigada por meio do tratamento dos animais com α-Fel/β-CD (3.12, 6.25 e 12.5 mg/kg, v.o.), veículo (β-CD, 12.5 mg/kg, v.o.) e diclofenaco (5 mg/kg, v.o.), a avaliação realizada em diferentes intervalos de tempo (1, 2, 3, 4, 5 e 6h) após o tratamento. Durante 10 dias os animais foram tratados e avaliados diariamente para verificar o efeito do tratamento sub-agudo. A possibilidade da ocorrência de toxicidade no tratamento sub-agudo foi verificada por meio da dosagem de parâmetros bioquímicos de função renal e hepática, alterações no peso corporal e dos órgão dos animais. O envolvimento da via opióide no efeito antinociceptivo do α-Fel (100 mg/kg, v.o.) foi investigado utilizando a naloxona (3 mg/kg, i.p., antagonista opióide) . A ocorrência de incoordenação motora foi registrado no teste de rota rod e a capacidade exploratória dos animais pelo teste do campo aberto. A análise quantitativa demonstrou que o complexo de inclusão apresentou a eficiência de carga (teor) de 7,0%. Não foi possível observar a redução da alodinia mecânica e da hiperalgesia em nenhuma hora de avaliação do tratamento agudo. No entanto, o tratamento subagudo resultou em redução significativa da alodinia e hiperalgesia em todas as doses testadas do α-Fel/β-CD. A utilização do antagonista opióide naloxona reverteu o efeito antinociceptivo do α-Fel. Não foi observado qualquer sinal de toxicidade nos animais tratados por 10 dias. O α-Fel/β-CD não interferiu na atividade locomotora e de permanência na barra giratória, nos testes de campo aberto e rota rot, excluindo a ocorrência de um resultado falso positivo no efeito antinociceptivo.