Apesar de sua riqueza florística, o estado do Piauí apresenta lacunas no conhecimento sobre sua flora, o que dificulta a identificação de táxons nativos, endêmicos e ameaçados de extinção, dados essenciais para traçar estratégias de conservação e uso sustentável. Com esta tese, o nosso objetivo foi investigar a riqueza, distribuição e perspectivas de conservação de angiospermas no Piauí. A pesquisa foi baseada principalmente na compilação de informações florísticas e fitogeográficas a partir de levantamentos bibliográficos e consultas a repositórios públicos. Adicionalmente, coletamos informações etnobotânicas junto a 120 moradores da comunidade rural Goiabeira, em Passagem Franca do Piauí. As análises incluíram listas florísticas, métodos estatísticos descritivos e inferenciais, elaboração de mapas temáticos, como coropléticos, de grade quadricular e de modelagem de distribuição de espécies. Na literatura sobre a flora do Piauí, identificamos 541 publicações (382 artigos, 104 capítulos de livros, 25 dissertações e 30 teses), destacando-se a Etnobotânica como área mais explorada. Essa produção científica distribuiu-se em 150 dos 224 municípios, sendo significativamente influenciada pela presença de instituições de ensino/pesquisa e áreas protegidas. Os resultados revelaram a presença de 3.407 espécies de angiospermas no Piauí, distribuídas em 1.094 gêneros e 176 famílias, incluindo 3.000 nativas, 1.054 espécies endêmicas do Brasil e 64 ameaçadas de extinção. Nas Unidades de Conservação, foram registradas 1.521 espécies, com 443 endêmicas e 16 ameaçadas, concentrando-se nas proximidades de áreas prioritárias de conservação nos domínios da Caatinga e do Cerrado. A modelagem de Callindra ulei Harms (Fabaceae) demostrou a presença de habitas extremamente adequadas em ambos os domínios fitogeográficos sob as condições climáticas atuais. As projeções futuras indicam, entretanto, uma redução de 75,30% a 84,20% desses habitats até 2100. As informações etnobotânicas revelaram que 70 espécies de plantas são consideradas prioritárias pela comunidade Goiabeira, com a seleção sendo significativamente associada à sua utilidade, especialmente para alimentação, medicina e construção. A partir do exposto, contribuímos com avanços no conhecimento da flora de angiospermas do Piauí, direcionando pesquisas e excursões botânicas para regiões pouco exploradas. Com a integração de diferentes abordagens, preenchemos lacunas científicas e destacamos a importância de estratégias de conservação que considerem as mudanças climáticas, o conhecimento local e o contexto socioambiental em ações de proteção da biodiversidade.