A presente dissertação apresenta uma proposta interdisciplinar, envolvendo a Linguística e o Direito e pretende desenvolver um estudo focado na Mediação de Conflitos e na Análise do Discurso. Trata-se de uma pesquisa básica, do ponto de vista da finalidade, qualitativa quanto à abordagem e bibliográfica quanto ao procedimento de coleta de dados. O corpus analisado foi composto por cinco relatos de casos retirados do livro “Mediare: um guia prático para mediadores” de Lília Maia de Moraes Sales. Estabelecemos como objetivo geral identificar e analisar as estratégias discursivas de sujeitos envolvidos em situações de conflito, desvelando as cenas enunciativas, a estrutura retórica, além da lógica e da encenação argumentativa. A fundamentação teórica tem como base a Retórica aristotélica, com ênfase nos meios de prova: ethos, pathos e logos, associada à Análise do Discurso Semiolinguística de Charaudeau (2015, 2017a, 2017b). Também lançamos mão das cenas enunciativas propostas por Maingueneau (1990, 1997, 1998, 2003, 2005, 2008, 2015, 2018). Os resultados mostram que a sessão de mediação de conflitos constitui-se como artefato retórico, cuja encenação procura neutralizar os dissensos através da patemização e da mobilização das imagens (ethos) de prudência, virtude e benevolência. Trata-se de uma lógica argumentativa que oscila entre os eixos do possível e do obrigatório, valendo-se do escopo do valor de verdade que propicia os seguintes modos de raciocínio: dedução, explicação, escolha alternativa e concessão restritiva. No tocante às cenas enunciativas, temos um discurso jurídico subvertido como cena englobante, tendo em vista o abandono dos jargões em detrimento de uma seleção lexical adequada ao contexto. A cena genérica pressupõe o próprio relato de sessão de mediação de conflitos enquanto gênero discursivo, caracterizado pela composição linear, pelo uso de marcadores discursivos e pela modalização. A cenografia denota a descrição espaço-temporal, o desvelamento dos sujeitos cujos nomes são fictícios para preservação do sigilo das partes e todo o ritual linguageiro de uma encenação jurídica. Concluímos que os estudos da linguagem podem contribuir de forma substancial para o sucesso da mediação de conflitos, diminuindo sobremaneira a judicialização.