O propósito desta pesquisa é analisar a coletânea de contos intitulada Feliz Ano Novo, do escritor brasileiro Rubem Fonseca, a partir da Semiolinguística. Publicado originalmente em 1975, pela editora Artenova, o livro teve sucesso imediato, mas suas narrativas de sexo, violência e conflito entre classes sociais levaram-no à censura pelo regime militar, sendo liberado apenas em 1985 e reeditado em 1989 pela Companhia das Letras. A presente pesquisa é de cunho bibliográfico, de caráter qualitativo e interpretativo. Para uma melhor compreensão dos dados, foi feita uma releitura da obra Feliz Ano Novo, composta por quinze contos, sendo que seis deles foram escolhidos para efeito de análise. Os fenômenos foram localizados através de fichamentos, sendo posteriormente classificados e analisados. Nossa base teórica está centrada na Análise do Discurso Semiolinguística de Charaudeau (2006), complementada pelas noções de ethos em Amossy (2005) e Maingueneau (2001, 2008), dentre outros autores. A análise evidencia o conto enquanto ato de linguagem e o texto literário moldado dentro de um dispositivo de encenação cujas circunstâncias do discurso fazem parte de uma dimensão implícita. Rubem Fonseca, na condição de sujeito comunicante, enuncia a partir de um contrato comunicacional, juntamente com os seus personagens, porta-vozes do projeto de fala engendrado. Essa cenografia resulta numa organização discursiva descritiva e narrativa, cuja construção, encenação e estruturação lógica permitem a revelação de um mundo delinquente no qual há mais “agressores” que “benfeitores”, em termos de papéis actanciais. Os personagens projetam ethé de calculistas, violentos, frios, misóginos e vingativos, havendo uma distinção na caracterização de delinquentes pobres e ricos. Concluímos que o estudo dos contos de Rubem Fonseca a partir da Semiolinguística nos permite o desvelamento do ato de linguagem enquanto dispositivo de produção de sentidos, contribuindo para uma compreensão mais abalizada dos fenômenos linguísticos e literários.