Ler um texto de literatura é mergulhar em um mundo diferente e intrigante. Quando nos remetemos mais precisamente à Literatura Surda, retomamos, em nosso imaginário social, a posição-sujeito surdo historicamente negada, (in)visibilizada. Nessa construção ideológica, a posição de escritor e produtor de sua própria literatura, muitas vezes não é vista como possível dentro da normatização social. No entanto, a poesia surda está cada vez mais aparecendo no cenário literário e discursivo, sob formas de registro audiovisuais sinalizadas. Por tratar-se de uma materialidade significante pouco pesquisada pelo prisma discursivo, o presente trabalho de dissertação se justifica pela necessidade e importância de se estudar e analisar, pelo viés da Análise de Discurso Materialista (doravante, ADM) de perspectiva pecheuxtiana, textos da esfera da Literatura Surda, em específico, poesias autorais sinalizadas em produções audiovisuais do artista surdo, negro e periférico Edvaldo Santos, conhecido popularmente como Edinho Poesia, morador da periferia de São Paulo – SP. Os objetivos desse trabalho são: (1) descrever e interpretar como os discursos produzidos por meio da poesia autoral surda (se) significam considerando suas condições de produção; (2) deslinearizar o modo pelo qual se apresentam os processos discursivos relativos à memória/interdiscurso, formações discursivas/ideológicas; (3) compreender a partir de que posição-sujeito Edinho enuncia ao falar da surdez, da língua de sinais, cultura/identidade, subjetividade e arte nas suas produções em análise. O processo metodológico do nosso trabalho é de caráter qualitativo-descritivo-interpretativista. Sobre nosso arquivo de análise, foram selecionadas 8 produções poéticas autorais em vídeo do sujeito surdo Edvaldo Santos, produzidas e publicadas na rede social Instagram do autor. Essa pesquisa toma como escopo teórico as formulações de Michel Pêcheux (1995, 2014, 2015) e Eni Orlandi (1988, 1993, 1996, 2003, 2012) naquilo que se refere à ADM; os estudos culturais e surdos sobre Literatura Surda e poesia surda dos autores Quadros (2019), Karnopp (2010), Strobel (2009) e Mourão (2011), além de autores como Lopes (2016) e Silva (2020) que versam sobre a Literatura Surda como um objeto histórico simbólico e como um lugar de inscrição de sentidos na/pela memória discursiva. A partir de nosso movimento analítico, compreendemos que sua posição enquanto sujeito surdo produtor de sua literatura, o faz ocupar um lugar discursivo que gera furos no imaginário social, rompendo com discursos já estabilizados e inscritos em uma prática ideológica ouvintista. O presente trabalho nos fez perceber que os poemas de Edinho dialogam e são atravessados por imaginários e construções ideológico-discursivas que, somados à significação do corpo, produzem o lugar do possível para a significação dos sujeitos surdos, negros e periféricos como sujeitos de direito, e de direito, inclusive, a significar por meio da Literatura.