Esta tese examina criticamente as obras de Michel Houellebecq, posicionando-as na interseção entre literatura, filosofia e crítica social. Por meio de uma análise abrangente de Plataforma (2001), Submissão (2015) e Serotonina (2019), a pesquisa explora os temas de declínio moral, fragmentação social e desespero existencial como centrais na estrutura narrativa de Houellebecq. O estudo investiga como a produção literária do autor funciona tanto como reflexo quanto como crítica da ordem neoliberal, interrogando a mercantilização das relações humanas, a erosão dos valores tradicionais e o colapso da identidade coletiva na sociedade contemporânea.Um foco central deste projeto é o exame aprofundado da representação da subjetividade pós-moderna em Houellebecq, em alinhamento com os referenciais teóricos de pensadores como Zygmunt Bauman e Fredric Jameson. Com base em Cegueira Moral (2014), de Bauman e Donskis, esta pesquisa destaca o fenômeno da "cegueira ética" nas obras de Houellebecq, onde indivíduos modernos, dominados pela atomização e ideologias de consumo, exibem uma profunda incapacidade de responder de forma significativa a crises morais e sociais. Em particular, a exploração de Houellebecq sobre protagonistas desencantados — alienados de si mesmos e dos outros — ilustra um vazio existencial mais amplo, exacerbado pelas dinâmicas neoliberais. A tese também se engaja com a concepção de Jameson sobre o pós-modernismo como uma "dominante cultural", analisando como Houellebecq incorpora as ansiedades pós-modernas em suas narrativas. Ao enquadrar a crítica de Houellebecq ao capitalismo tardio por meio da teoria da mercantilização de Jameson, a pesquisa destaca como a fusão entre cultura e economia reduz a capacidade do indivíduo para experiências autênticas. Os personagens de Houellebecq, impulsionados por alienação e desilusão, são emblemáticos de uma "economia libidinal", onde a intimidade e a realização emocional são substituídas por trocas transacionais, levando a um desespero existencial ainda maior.Além disso, este estudo confronta o tratamento controverso de gênero e sexualidade por parte de Houellebecq, um aspecto frequentemente criticado por seu reducionismo. Embora reconheça a crítica de Carole Sweeney sobre o "essencialismo biológico" e os tons antifeministas em suas obras, a tese contextualiza essas representações dentro do objetivo narrativo mais amplo de Houellebecq: expor os efeitos desumanizadores da mercantilização neoliberal em todos os aspectos da vida humana, incluindo as relações sexuais e emocionais. Sob essa perspectiva, o estudo argumenta que a representação da sexualidade por Houellebecq, embora provocativa, serve como um veículo para um comentário social mais amplo sobre a perda de amor, compaixão e intimidade em um mundo desregulado. A pesquisa posiciona, por fim, o conjunto da obra de Houellebecq como uma narrativa de advertência sobre o desespero diante das forças capitalistas desenfreadas. Suas narrativas não apenas diagnosticam o mal-estar espiritual do sujeito contemporâneo, mas também confrontam o leitor com verdades inquietantes sobre a trajetória da modernidade. Ao sintetizar análise literária e investigação filosófica, esta tese demonstra como a obra de Houellebecq opera como uma "literatura do desespero" — uma reflexão sombria, mas necessária, sobre o vazio ético e emocional no cerne da existência contemporânea. Em conclusão, a tese afirma a relevância de Houellebecq como uma voz crítica na literatura do século XXI, que nos obriga a encarar os dilemas morais, sociais e existenciais colocados por nossa condição moderna.