Esta dissertação analisa o filme Os Filhos da Esperança (2006), de
Alfonso Cuarón, argumentando que a obra se articula não como uma distopia
clássica, mas como uma Hipo-Utopia: um futuro que se define pela intensificação
das crises sociais, políticas e da temporalidade do presente. Adota-se como
percurso metodológico a Etnografia de Tela, abordagem que permite uma análise
imersiva do filme como artefato cultural, focando em como seus elementos
estéticos produzem sentidos e afeto. A análise investiga como a linguagem
cinematográfica — com destaque para o plano-sequência, a câmera na mão e a profundidade de campo — constrói a experiência de um presente em colapso e de um horizonte de expectativa esvaziado. Por fim, o estudo interpreta o nascimento do bebê na trama como um Acontecimento, que promove uma ruptura nessa temporalidade estagnada e reabre a possibilidade de um futuro, ainda que precário. Conclui-se que Os Filhos da Esperança transcende o gênero para funcionar como um diagnóstico do imaginário contemporâneo, problematizando a natureza da esperança em um mundo que parece ter perdido a capacidade de vislumbrar o amanhã.