Tratadas inicialmente como irracionais, debilitantes e apolíticas, as emoções se tornaram categorias analíticas na sociologia a partir dos anos 1980 e mais recentemente de forma transdisciplinar com a chamada “virada afetiva” (Schaefer, 2019). A partir da compreensão de que as emoções podem registrar injustiças e desigualdades sociais por sua qualidade de “coisa social” (McCarthy, 1989), esta pesquisa se debruça sobre como as relações entre sentimentos e experiências LGTBQIAPN+ na literatura contemporânea do século XXI tematizam problemas sociais. Nesse sentido, à luz das contribuições dos Estudos Culturais em diálogo com os estudos dos afetos, objetiva-se analisar de que formas as emoções, compreendidas como sinônimos de afetos e sentimentos, são mobilizadas em obras de autorias e temáticas dissidentes à luz da crítica materialista. Com base nas pontes entre os Estudos Culturais (Cevasco, 2003; Williams, 2011) e estudo dos afetos (Cvetkovich, 2003; Ahmed, 2010; Kveller, 2022), são investigadas emoções como raiva, culpa, paralisia e atraso com ênfase em questões de classe, ideologia, agência, estrutura e gestão de si. A partir de nomeação de problemas como “hipervisibilização do invisível” e da “transnormatividade capitalizada”, os resultados parciais apontam que os escritos de autorias LGBTQIAPN+ no início do século XXI materializam as contradições sociais de experiência dissidentes, indicando que os afetos negativos ou “sentimentos feios” (Ngai, 2005) não são necessariamente paralisantes, mas sim sintomas da crise vivenciada por tais sujeitos em espaços cisheteronormativos.